O público fica ansioso por mais um capitulo da novela. Temas
onde o vilão causa dor a mocinha, sendo punido no final de alguma forma, alegra
o povo. A novela Avenida Brasil, baseada superficialmente em O conde de Monte
Cristo e um dos assuntos mais comentados ultimamente, demonstra o conceito de
solidariedade mecânica de Durkheim e o leva ao extremo. A punição pelas
próprias mãos de alguém culpado, sendo a justiça falha ao penalizá-lo.
A emoção ao ler sobre a vingança de Dantès, personagem da
obra de Alexandre Dumas, contra aqueles que cometeram injustiças se propaga na
vida real, na pulsão do público pela radicalização das penas para os
criminosos. Podemos ver também, em O Conde de Monte Cristo, a vontade de punição,
ainda que de um homem inocente, atinge extremos de violência, e como uma
entidade superior surge como uma salvação para punir aqueles que o fizeram mal.
“Deus me fará Justiça”, famosa frase do romance, mostra a crença de que mesmo
caso a justiça terrestre falhe, a divina não. O direito penal é então visto
como algo insuficiente e ineficaz, gerando uma sensação de impunidade, sendo necessária
a intervenção divina para que a justiça seja feita.
De onde vem esse ódio reprimido? Para Durkheim, podemos ver isso como uma emoção
pertencente à consciência coletiva, ao atual senso comum, sendo que o crime é
uma ofensa a essa coletividade, a uma entidade transcendente. A solidariedade
mecânica seria substituída pela orgânica, por uma racionalidade que faria com
que as pessoas substituíssem a ânsia da punição, pela restituição do individuo
na sociedade. Porém, como podemos perceber a sociedade ainda mantém a
passionalidade, que leva muitas vezes a pensamentos retrógrados e incompatíveis
com o momento de inovações que vivemos.
Murilo Martins
Deus me fara justiça!
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