Total de visualizações de página (desde out/2009)

3238399

segunda-feira, 21 de abril de 2025

O clique que define

Era uma terça-feira qualquer. Letícia acorda com o alarme do celular, desliga-o com a habilidade de quem já fez isso mil vezes e, antes mesmo de se levantar, abre o Instagram. A garota desliza o dedo na tela, vendo os números de curtidas e visualizações subirem. A cada notificação, um sorriso nervoso aparece, como se estivesse validando seu valor. Nas redes sociais, todos postam as melhores versões de si mesmos, mas quanto mais Letícia se conecta com essas versões, mais sente que está se distanciando de quem realmente é. Cada clique a afasta da autenticidade e a aproxima de uma aprovação superficial.

Ela sabe que, no fundo, tudo é uma construção. Cada foto postada, cada palavra escolhida, faz parte de um jogo onde o objetivo não é ser verdadeiro, mas ser visto. As pessoas estão lá, curtindo e comentando, mas será que realmente as conhecem? Ou será que, ao interagir com elas nas redes, estão apenas se conectando com a imagem cuidadosamente elaborada que cada um escolhe mostrar? Letícia sente que, a cada nova postagem, está participando de um teatro, onde o palco é infinito e o público, cada vez mais distante.

O mais curioso é que Letícia não sabe de onde vêm essas expectativas. Não há um único responsável. As redes sociais criaram uma espécie de "regra não dita", uma pressão constante para ser admirada. É como se as pessoas não tivessem escolha, precisando se adequar a um molde invisível que dita o que é "bom" e "aceitável". E, mesmo que tente escapar, a sensação de que sua vida precisa ser validada pelos outros é forte demais para ser ignorada.

Essa pressão digital nas redes sociais é um exemplo claro de fato social, um conceito central do sociólogo Émile Durkheim. Um fato social é algo que é externo ao indivíduo, mas que influencia fortemente seu comportamento. A necessidade de mostrar uma versão "perfeita" de si mesmo nas redes sociais é imposta por uma norma coletiva, que todos seguem sem questionar. O mais interessante é que, como Durkheim explica, essa pressão é coercitiva — ou seja, as pessoas sentem que não têm escolha, mesmo que, muitas vezes, não percebam que estão sendo influenciadas.

Esse fenômeno reflete o conceito de solidariedade mecânica, onde as pessoas se conectam não pela individualidade, mas pela aderência às mesmas normas sociais. A pressão para ser aceita nas redes sociais cria uma união de comportamentos padronizados, baseados em um reconhecimento coletivo que se sobrepõe à autenticidade individual.


Anna Lívia Izidoro Ferreira; 1° Direito matutino

Nenhum comentário:

Postar um comentário