A ideia de que os indivíduos são autônomos em suas escolhas pessoais é frequentemente confrontada pela realidade social em que estão inseridos. Segundo Émile Durkheim, sociólogo clássico, o comportamento humano é moldado por forças coletivas que impõem normas, valores e formas de agir. Nesse contexto, a moda e as tendências culturais funcionam como poderosos mecanismos de influência social, determinando, muitas vezes de forma inconsciente, os gostos e preferências individuais. Sua análise permite compreender como essas manifestações sociais promovem coesão e pertencimento, ao mesmo tempo em que limitam a liberdade individual.
Para Durkheim, os "fatos sociais" — maneiras de agir e pensar exteriores ao indivíduo — exercem uma força coercitiva que guia o comportamento coletivo. A moda, enquanto fato social, exemplifica essa ideia de forma clara. Quando uma tendência se espalha — seja o uso de calças largas nos anos 2000 ou o retorno dos tênis "chunky" nos últimos anos — observa-se um movimento coletivo de adesão, não apenas por estética, mas por pertencimento social. A pressão para se adequar ao que é considerado "moderno" ou "aceitável" faz com que muitos moldem seus gostos a partir do que é socialmente validado, e não de escolhas puramente individuais.
Além disso, a moda serve como um elemento de coesão social, função que Durkheim via como essencial à sobrevivência das sociedades. Ao seguir determinadas tendências, os indivíduos reforçam laços simbólicos com grupos com os quais se identificam — seja um grupo de adolescentes no TikTok, jovens urbanos adeptos do estilo minimalista ou fãs de uma cultura específica como o K-pop. Mesmo aqueles que optam por se vestir de maneira "alternativa" ou "anti-moda" estão, na prática, aderindo a um conjunto de referências culturais compartilhadas. Isso confirma a tese de Durkheim de que mesmo a aparente liberdade individual está inserida dentro de estruturas coletivas.
Um exemplo contemporâneo é a popularização do “clean girl aesthetic” nas redes sociais, que valoriza uma aparência natural, organizada e minimalista. Apesar de parecer uma escolha individual de estilo, essa estética é amplamente divulgada por influenciadores, marcas e algoritmos, e cria um padrão de comportamento e consumo que molda o gosto de milhares de pessoas. O gosto pessoal, nesse caso, é altamente mediado pela lógica do coletivo.
Dessa forma, a teoria de Durkheim permite compreender que a formação dos gostos pessoais é, em grande parte, um processo social. A moda e as trends não apenas refletem, mas também moldam os comportamentos dos indivíduos, ao mesmo tempo em que reforçam normas, criam pertencimento e sustentam a coesão social. Entender essa dinâmica é essencial para questionar até que ponto nossas escolhas são realmente livres — ou se estamos, o tempo todo, apenas atualizando os padrões impostos pelo coletivo.
Letícia de Oliveira Silva, 1°ano, Direito (matutino).
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