Émile Durkheim, foi o primeiro a tratar os fenômenos sociais como objetos de estudo científico. Em sua obra, desenvolveu o conceito de fato social, definido como toda maneira de agir, pensar e sentir que é exterior ao indivíduo, exercendo sobre ele um poder de coerção. Em outras palavras, são normas e expectativas da sociedade que moldam o comportamento das pessoas, muitas vezes sem que elas percebam. Um exemplo marcante de fato social pode ser observado nos padrões de beleza impostos pela sociedade. Sendo assim, é necessário discutir sobre a tensão entre a estética e a saúde.
Através da mídia, da publicidade e, mais recentemente, das redes sociais, constrói-se uma imagem ideal de corpo e aparência que se torna referência para milhões de pessoas. Esses padrões atuam como uma espécie de "modelo obrigatório", pressionando os indivíduos a se encaixarem neles, ainda que isso exija grandes sacrifícios físicos, emocionais e financeiros. Essas expectativas não surgem do nada: são construídas coletivamente e reforçadas constantemente. E, como apontaria Durkheim, por serem exteriores ao indivíduo e por influenciarem seu comportamento, os padrões de beleza funcionam como verdadeiros fatos sociais. A pessoa pode até não concordar com eles racionalmente, mas ainda assim se sente cobrada a seguir aquela norma: seja através de dietas extremas, cirurgias plásticas, uso excessivo de cosméticos ou mesmo do sofrimento silencioso diante da não aceitação de seu próprio corpo.
Em muitos casos, a busca por uma aparência "ideal" acaba se sobrepondo ao bem-estar físico e mental. Pessoas desenvolvem distúrbios alimentares, ansiedade e depressão, tentando alcançar um padrão inalcançável e mutável. A saúde, que deveria ser prioridade, passa para segundo plano. Isso mostra como um fato social pode influenciar o indivíduo a ponto de ele agir contra si mesmo. No entanto, também é possível observar uma reação coletiva em sentido oposto. Movimentos como o “body positive” têm ganhado força e questionado os padrões estabelecidos, propondo uma visão mais inclusiva e respeitosa da diversidade corporal. Esse contramovimento também pode ser entendido como um fato social emergente, que tenta equilibrar a balança entre o que a sociedade impõe e o que é realmente saudável e aceitável.
Portanto, ao aplicar o conceito de fato social de Durkheim aos padrões de beleza, fica evidente como a sociedade exerce uma força invisível, mas extremamente poderosa, sobre os indivíduos. A pressão por corresponder a um ideal estético não é apenas uma escolha pessoal, mas sim uma resposta a normas coletivas que, muitas vezes, passam despercebidas. O grande desafio da atualidade está em reconhecer essa influência social e encontrar equilíbrio entre o desejo de cuidar da aparência e a necessidade de preservar a saúde física e emocional. Refletir sobre isso é um passo importante para desconstruir padrões excludentes e construir uma sociedade mais consciente, onde a diversidade seja valorizada e onde o bem-estar individual não seja sacrificado em nome de expectativas sociais impostas.
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