A alegoria da caverna de Platão apresenta a relação entre a sociedade e a busca por novos conhecimentos: por estarem muito concentrados em suas pré-noções sobre o mundo, os indivíduos dentro da caverna não acreditam que podem existir coisas que vão além de seu espaço limitado do saber, então julgam quem os diz o contrário. Essa filosofia se encaixa de diversas formas nas críticas de Durkhein, que busca excluir ideias já formadas sobre o que estuda com o objetivo de entendê-la melhor, o que não ocorre quando as pessoas na caverna rejeitam a busca pelo conhecimento científico, já que dessa forma elas concentram-se apenas na idealização dos objetos.
Esse pensamento vai além, ainda, da negação em ir em busca do novo, ele abrange também o porquê dos indivíduos abraçarem tanto seus ideais, um deles sendo a própria caverna. Durkhein valoriza a sociedade como um organismo já existente antes dos cidadãos, na qual a individualidade se torna cada vez mais distante, já que fazer parte de um grupo social faz com que você seja influenciado por ele em suas ações e pensamentos, além de implicar na existência de uma função que você deve exercer. Ao contrário de pensadores como Thomas “O Homem É O Lobo Do Homem” Hobbes, Durkhein entende o local da comunidade no desenvolvimento do ser humano, sabendo que os indivíduos não nascem prontos, o que nos leva de volta à caverna: as funções exercidas pelos ocupantes da caverna já estão enraizadas neles, sua criação foi programada para enxergar do jeito que enxergam, algo que pode ser prejudicial ou não.
Segundo a perspectiva funcionalista de Durkhein, essa situação é necessária para evolução, pois assim como no crime, existe uma utilidade social na rejeição do novo - pelos habitantes da caverna - e no comportamento do desviante - a pessoa que desafiou sua realidade. Essa relação entre quando e onde algo se faz útil ou representa sua função e se ela é boa ou ruim, ao meu ver, pode ser representadas por exemplos mais palpáveis atualmente também, como a educação de uma criança: quando um ser humano nasce, ele ainda não tem pré-noções, tudo que ele sabe será formado a partir do local em que ele vive, com quem ele estabelece relações, em qual comunidade ele se insere, quem o ajuda a formar sua índole e isso estabelece algo que era pouco abordado até então, a responsabilidade social. A caverna tem sua cota de responsabilidade pelo que aconteceu após o homem tentar sair dela, da mesma maneira que nosso corpo social tem a sua quando cometem um crime, ou são violentos contra grupos de minorias, ou, saindo de episódios de desgraça, quando alguém tem uma carreira bem estabilizada.
Tudo é influente na desenvoltura de uma pessoa, são as pequenas coisas que estabelecem nele sua forma de ver o mundo, suas pré-noções, porém a sociedade, apesar de ter interesse em julgar as decisões do outro, não quer se responsabilizar como parte atuante nelas e não entende como a formulação e, mais importante, o apego aos preconceitos enraizados na comunidade são prejudiciais para a prosperidade do corpo social, tanto cientificamente quanto em questão de cidadania e respeito entre seus integrantes.
Beatriz Moraes Rodrigues de Oliveira
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