Um dos princípios basilares, e sem dúvida um dos mais sedutores, dos debates jurídico-sociais é o da individualidade, afinal, se somos todos verdadeiramente fins em nós mesmos, portadores de centelhas divinas e dotados de uma originalidade tão pura, tão plural (e ainda assim tão única) seria inegável à cada um de nós a consagração de nossos desejos e vontades próprios desde que os únicos destinatários desses anseios sejam o próprio indivíduo, à esse princípio sempre foi alçado à um patamar sacrossanto, indubitável, de modo que qualquer um que o contestasse estaria cometendo um disparate ao status quo, um louco, um revolucionário perdido, um esquisito.
Um dia um ‘’esquisito’’ chamado Durkheim resolveu cometer uma esquisitice megalomaníaca, resolveu ele dizer que essa individualidade, bem como esse indivíduo autorrealizável que existe, pensa e age em retroalimentação não passa de um raciocínio raso, se não somos bons selvagens rosseaunianos e estamos portanto, lançados na sociedade, só podemos ser fruto e reflexo dela, logo existimos, pensamos, agimos em retrospecto desse mundo. Ora! mas se tão somente somos reflexos sociais, e não existem tais coisas como o pensamento próprio, a ação individualista e o ato autêntico, como podemos nós evoluir? Somos então meras copiadoras do establishment fadadas à reprodução infinda do modo de vida atual? Ainda somos os mesmos... e vivemos como nossos pais? Isso parece uma verdade um tanto quanto desesperadora para aqueles que (com razão) incomodam-se profundamente com o mundo onde foram lançados.
Ainda que sejamos fatos sociais, não necessariamente precisamos fazer parte do continuum, do ‘’normal’’, ser reflexo da sociedade não implica em ser perpetuador dela, por isso brado: esquisitos do mundo, uni-vos! Usem suspensórios com calças jeans sem necessidade de dress code, tomem chimarrão na praia, não tenham medo de amar e bradar seu amor (ainda que impopular) nos jantares de família, corram o risco de ficar sem sobremesa por discordarem dos grupões do whatsapp... há muitos outros ‘’ esquisitos’’ no mundo e por vezes tudo que um necessita é da solidariedade do outro, ver que também existem outros reflexos sociais com quem nos identificamos (mas tememos admitir) pode ser o pontapé inicial para nos conectarmos com quem verdadeiramente somos e nos é imposto a todo momento que é desarmônico ser.
‘’Patas de gato’’ no meio do Pacífico formas ondas gigantes pra serem surfadas em Nazaré, uma borboleta bate asas em Chicago pra gerar um furacão em Osaka, um esquisito faz uma esquisitice, não por um ato individual, mas pra que muitos outros percebam dentro de si, que talvez essa esquisitice é mais normal do que parece.
Daniel Godas Galhardo Damian
1 Ano Direito – Matutino
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