Assim
que prossegui minha caminhada, observei uma exposição de arte moderna, com o
tema: “Superação da desigualdade e progresso”. Logo em seguida, ao ver as
belíssimas obras engajadas acreditei no mundo e no ser humano. A vivacidade dos
artistas, que lutavam por justiça social, acendeu uma centelha de esperança nas
cinzas que preenchiam meu ser resignado.
De
repente, o homem sujo reapareceu e sentou em frente à exposição artística. Ao
fundo, os cães ladravam o que escutavam na casa de seus vizinhos. Aquele ser estranho,
mas necessário, demonstrou a hipocrisia que paira sobre todos nós. Aquele ser
patológico continuou despercebido frente aos defensores da igualdade. Aquele
ser imundo e miserável era útil para o funcionamento da sociedade demagoga,
hierarquizada e injusta. Aquele homem - quase bicho - mas homem, é uma parte do
organismo podre, do qual todos pertencemos.
Após
observar aquela cena, corri em direção ao homem para ajudá-lo e em volta, todos
me dirigiram um olhar torto. Ao me juntar ao mendigo tornei-me anômico e sujo
como ele, pois aquele animal porco não deveria ser ajudado – “se ele está lá é
porque foi um sujeito desmoralizado.”
Tentei
estender minha mão para levantá-lo, mas a polícia chegou expulsando ele dali:
– Como você pode sujar nossa cidade assim? –
disse ao mendigo.
-
E você como tem coragem de tocar nesse sujeito de cabelo pixaim?
Então,
o morador de rua foi levado, a multidão que se aglomerou ao redor voltou para
seus devidos lugares. Tudo voltou a funcionar normalmente, de maneira orgânica.
Ao
fundo, os cães ladravam o que escutavam na casa de seus vizinhos.
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