Ídolos da Ciência
O século XVII representa, sem dúvidas, um grande
divisor de águas no estudo da metodologia científica, uma vez que é nesse
período que René Descartes e Francis Bacon fazem suas proposições teóricas. É fato
que suas linhas de pensamento possuíam divergências substanciais, porém o
discurso de ambos era unânime ao ressaltar a importância da neutralidade do
cientista, devendo este se livrar de suas crenças e paixões de modo a não guiar
suas pesquisas por subjetividades ou preceitos pessoais.
Nesse contexto, Bacon define ídolos que cercam o
indivíduo por diversos lados e o distorcem a visão, colocando em xeque sua
neutralidade e confiabilidade. Há, neste sentido, aqueles que se consideram verdadeiros
servidores da ciência, invulneráveis a tais desvios e fiéis ao processo de
estudo, dedicando sua vida a seu desenvolvimento e defesa. Esses mesmos, que se
julgam verdadeiros cientistas, elevam estudos à categoria de textos sagrados e
teóricos ao patamar de deuses, criando na ciência seu próprio ídolo baconiano.
Tais devotos se recusam a aceitar a refutação de
suas divindades, e em cada discordância orientam seus estudos para provar que a
palavra de seus ídolos se mantenha prevalecedora, ignorando a neutralidade
propagada por Descartes e Bacon. Um grande exemplo desse fenômeno ocorre quando
Albert Einstein, até então um mero mortal, parte do pressuposto de que Isaac
Newton estava errado, e publica sua Teoria da Relatividade. Insultados, os
crentes newtonianos não aceitam tal profanação e, ao invés de verificarem a nova teoria, se recusam a aceitar tal
suposição. Apenas anos depois a teoria de Einstein passa a ser aceita e este
passa a ter seus próprios seguidores.
Deste modo verifica-se que as lentes
distorcedoras da visão científica não se encontram apenas em outros fatores,
mas podem também estar na própria ciência, a partir do momento em que a crença em uma ideia
supera o viés questionador da construção do conhecimento, formando teóricos
intocáveis e comprometendo toda a produção intelectual desse meio.
Paulo Victor Cincerre de Godoy
1º Direito - Diurno
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