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domingo, 6 de agosto de 2017

As bases teóricas da ciência e da academia: Descartes e Bacon

  O estudo da filosofia de Bacon e Descartes é muito importante para compreender as bases e o funcionamento da ciência atual, o que acaba sendo um tema muito bem colocado nos estudos de qualquer universitário em seu primeiro ano de faculdade. Afinal, compreendendo-se a filosofia desses pensadores pode-se ter uma ideia mais clara do que a academia é, ou pretendia ser.

Com esses dois filósofos, a ciência deixou de ser especulativa para ser transformadora, começou a haver uma necessidade de que a ciência se baseasse no real, e não mais no divino, como tinha sido até então. Outro ponto em comum no pensamento dos dois é a pretensão de que o conhecimento fosse neutro, guiado pela razão e pela experiência, embora isso nem sempre ocorra.

No entanto, apesar dessas semelhanças, os pensamentos desses filósofos são muito diferentes. Descartes defende que o conhecimento deve ser baseado na razão, através do exercício da mente através de dúvidas, tendo como o princípio de chegada à verdade a clareza. Assim, é necessário duvidar de tudo até que se chegue em algo que seja claro o suficiente que seja impossível de ser duvidado.

Bacon, por outro lado, acredita que a experiência é a base do conhecimento. É interessante em sua filosofia o cuidado em mostrar que nem sempre aquilo que achamos que é experiência realmente o é. Aí estão caracterizados os ídolos, que são quatro, e podem ser definidos como uma falsa percepção de mundo. São eles: ídolos da tribo (distorções provocadas pela própria mente humana), ídolos da caverna (distorções provocadas pela relação do homem com o mundo à sua volta, como é o caso de sua formação, leituras e bagagens), ídolos do foro (distorções causadas pela relação com as pessoas à sua volta) e os ídolos do teatro (distorções causadas por representações teatralizadas e cheias de superstições, como é o caso da astrologia).

Nesse momento, apresentadas as diferenças entre os pensamentos desses dois filósofos, fica difícil conceber que em algum momento houve um amálgama de suas filosofias culminando na base da ciência e academia modernas. O que ocorre, na verdade, é que se utiliza o pensamento de Bacon no que tange à pesquisa e experimentação da faculdade para só depois recorrer-se a Descartes, formulando-se uma nova teoria através da racionalidade, mas sempre com uma base muito forte na experiência. Assim, se a academia atual se baseia nesses dois pensadores, pode-se concluir que o mesmo ocorre com a ciência moderna. Afinal, a maior parte da ciência, desenvolvimento de teorias e novas tecnologias ocorre no ambiente acadêmico.

Entretanto, a racionalidade e o ceticismo anteriormente propostos por René Descartes não são sempre devidamente reconhecidos e aplicados na academia atual. Assim, são frequentes algumas experiências frustrantes vivenciadas por muitos membros da área acadêmica, a exemplo da proposição de novas teorias, uma vez que é observada, dentro da comunidade acadêmica, uma forte influência advinda de reputação e status social interno, e que foram criadas por membros considerados mais influentes e importantes da própria academia. Portanto, é possível que se dependa de algum renome próprio ou de algum apoiador (seja outro acadêmico ou instituição investidora, por exemplo) para que um projeto ou teoria seja impulsionado e devidamente avaliado pelos pares de seu autor (considerando, claro, que sua avaliação e reprodução demonstre a validez da hipótese). Dessa forma, com uma frequência claramente inadmissível para um sistema que em teoria preconiza a racionalidade, o ceticismo e a empiricidade, ideias válidas e sustentadas logicamente podem ser prontamente descartadas em detrimento de comportamento antiético e, metaforicamente, elitista por parte dos pares de quem as propôs.

Já quanto à Bacon, é interessante notar que seus pensamentos foram adotados mais fortemente em comparação à Descartes. Um dos pilares da universidade pública é a pesquisa e, além disso, quando alguém entra na faculdade, ela é levada a deixar seus ídolos de lado e vivenciar uma experiência intelectual totalmente nova. Porém, acredito eu que se deixamos alguns ídolos para trás ao entrar na faculdade, acabamos nos apegando a outros, como é o ídolo do foro, afinal, o pensamento que predomina na faculdade acaba sendo homogeneizado e definido pelas novas companhias, embora menos conservador e mais desconstruído do que se tinha anteriormente. Os ídolos, portanto, acabam sempre presentes, embora mudem com o tempo e muitas vezes se camuflem bem.


Rafaela Carneiro Gonella – 1° ano Direito diurno

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