O estudo da filosofia de Bacon e Descartes é muito importante para
compreender as bases e o funcionamento da ciência atual, o que acaba sendo um
tema muito bem colocado nos estudos de qualquer universitário em seu primeiro
ano de faculdade. Afinal, compreendendo-se a filosofia desses pensadores
pode-se ter uma ideia mais clara do que a academia é, ou pretendia ser.
Com esses dois filósofos, a
ciência deixou de ser especulativa para ser transformadora, começou a haver uma
necessidade de que a ciência se baseasse no real, e não mais no divino, como
tinha sido até então. Outro ponto em comum no pensamento dos dois é a pretensão
de que o conhecimento fosse neutro, guiado pela razão e pela experiência,
embora isso nem sempre ocorra.
No entanto, apesar dessas
semelhanças, os pensamentos desses filósofos são muito diferentes. Descartes
defende que o conhecimento deve ser baseado na razão, através do exercício da
mente através de dúvidas, tendo como o princípio de chegada à verdade a
clareza. Assim, é necessário duvidar de tudo até que se chegue em algo que seja
claro o suficiente que seja impossível de ser duvidado.
Bacon, por outro lado, acredita
que a experiência é a base do conhecimento. É interessante em sua filosofia o
cuidado em mostrar que nem sempre aquilo que achamos que é experiência
realmente o é. Aí estão caracterizados os ídolos, que são quatro, e podem ser
definidos como uma falsa percepção de mundo. São eles: ídolos da tribo
(distorções provocadas pela própria mente humana), ídolos da caverna
(distorções provocadas pela relação do homem com o mundo à sua volta, como é o
caso de sua formação, leituras e bagagens), ídolos do foro (distorções causadas
pela relação com as pessoas à sua volta) e os ídolos do teatro (distorções
causadas por representações teatralizadas e cheias de superstições, como é o
caso da astrologia).
Nesse momento, apresentadas as
diferenças entre os pensamentos desses dois filósofos, fica difícil conceber
que em algum momento houve um amálgama de suas filosofias culminando na base da
ciência e academia modernas. O que ocorre, na verdade, é que se utiliza o
pensamento de Bacon no que tange à pesquisa e experimentação da faculdade para
só depois recorrer-se a Descartes, formulando-se uma nova teoria através da
racionalidade, mas sempre com uma base muito forte na experiência. Assim, se a
academia atual se baseia nesses dois pensadores, pode-se concluir que o mesmo
ocorre com a ciência moderna. Afinal, a maior parte da ciência, desenvolvimento
de teorias e novas tecnologias ocorre no ambiente acadêmico.
Entretanto, a racionalidade e o
ceticismo anteriormente propostos por René Descartes não são sempre devidamente
reconhecidos e aplicados na academia atual. Assim, são frequentes algumas
experiências frustrantes vivenciadas por muitos membros da área acadêmica, a
exemplo da proposição de novas teorias, uma vez que é observada, dentro da
comunidade acadêmica, uma forte influência advinda de reputação e status social
interno, e que foram criadas por membros considerados mais influentes e
importantes da própria academia. Portanto, é possível que se dependa de algum
renome próprio ou de algum apoiador (seja outro acadêmico ou instituição
investidora, por exemplo) para que um projeto ou teoria seja impulsionado e
devidamente avaliado pelos pares de seu autor (considerando, claro, que sua
avaliação e reprodução demonstre a validez da hipótese). Dessa forma, com uma
frequência claramente inadmissível para um sistema que em teoria preconiza a
racionalidade, o ceticismo e a empiricidade, ideias válidas e sustentadas
logicamente podem ser prontamente descartadas em detrimento de comportamento
antiético e, metaforicamente, elitista por parte dos pares de quem as propôs.
Já quanto à Bacon, é interessante
notar que seus pensamentos foram adotados mais fortemente em comparação à
Descartes. Um dos pilares da universidade pública é a pesquisa e, além disso,
quando alguém entra na faculdade, ela é levada a deixar seus ídolos de lado e
vivenciar uma experiência intelectual totalmente nova. Porém, acredito eu que
se deixamos alguns ídolos para trás ao entrar na faculdade, acabamos nos
apegando a outros, como é o ídolo do foro, afinal, o pensamento que predomina
na faculdade acaba sendo homogeneizado e definido pelas novas companhias,
embora menos conservador e mais desconstruído do que se tinha anteriormente. Os
ídolos, portanto, acabam sempre presentes, embora mudem com o tempo e muitas
vezes se camuflem bem.
Rafaela Carneiro Gonella – 1° ano
Direito diurno
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