René
Descartes e Francis Bacon são responsáveis por grande parte dos princípios
basilares da chamada Ciência Moderna. O primeiro lança-se na busca da verdade
efetiva, distanciando-se das “especulações filosóficas”, que, inseridas na
tradição clássica do pensamento, geravam, segundo ele, não mais do que pilares
supersticiosos e mágicos, isto é, alicerces frágeis para a construção de
quaisquer formas de saber. Elucida ainda o seu método de verificação para a
descoberta e retidão do conhecimento verdadeiro, a saber, basicamente: recepção
cética das informações, cortes epistemológicos dos subtemas, ordenamento
crescente de complexidade dos objetos e uma enumeração adjunta de metódica revisão.
Já Bacon, além de convergir na questão de uma ciência não apenas como mero exercício
desvirtuado de uma potencial finalidade, faz-se notório pela divisão e classificação
da ciência, relevando-se, sobretudo, na identificação e análise dos ídolos: falsas
percepções do mundo que, na forma das mais variadas pré-noções, configuram-se
em obstáculos ao conhecimento incontroverso.
Ainda
que da distância temporal dos instituidores da Ciência Moderna, faz-se
facilmente o diálogo de seus pressupostos com as mazelas do mundo contemporâneo
ou pós-moderno. Ambos os pensadores centram seus ditames na busca de uma ciência
que objetive benefícios para sociedade, na figura do atendimento do bem comum.
Nota-se aqui uma bússola orientadora que pode – e deve − ser exteriorizada do
campo das experimentações laboratoriais para o das políticas públicas, em
geral; devendo ser, para estas, um paradigma ou pré-requisito de análise, já
que o “fazer ciência” dos pensadores e o dever ser ou fim das políticas são ou
deveriam ser exatamente os mesmos: atender o bem comum e qualificar a condição
humana, longe das arritmias das eventuais paixões.
Dessa
forma, ao se analisar temáticas, como a união homoafetiva ou legalização das
drogas, ter-se-ia que, especialmente, privar-se dos ídolos, a exemplificar, dogmas
religiosos ou tradições culturais e morais, que acabariam certamente por
subjugar ou diminuir os valores de liberdade e igualdade pretendidos pelas
referidas transformações, colocando-os a mercê de suas tradições – muitas vezes
dotadas de graus de intolerância. A vaga dessas falsas percepções − leia-se
aqui um vasto campo de senso comum e banalização de reflexões − seria preenchida
por experimentações. Além disso, ter-se-ia a submissão das hipóteses
desenvolvidas ao princípio cartesiano da dúvida, a fim de realmente se analisar
a patologia em seu cerne, para – racionalmente, isto é, orientado pela razão −
chegar-se a um consenso que atenda o bem comum independente de credos, “achismos”,
respostas fáceis ou, como Bacon atribuía aos gregos, aquilo que é próprio das
crianças: estão sempre prontos para tagarelar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário