Para Weber, a
modernidade se constrói pela racionalização, e o direito é o aspecto
fundamental da vida moderna. No campo do direito a racionalização vai do “material”
para o “formal”, ou seja, a partir da realidade, o que é considerado “útil” e
proveitoso para a sociedade como um todo é normalizado e aplicado no campo do
direito, a norma abstrata deve abarcar a realidade concreta. O direito deve
servir como mola da racionalidade capitalista, segundo Weber.
Nesse contexto, o julgado expõe a
situação de uma transexual que demanda a cirurgia de transgenitalização, alteração
do prenome e do gênero sexual em seus registros. Após passar por vários
profissionais da área da psicologia, assistência social e psiquiatria, ela se
sente pronta e preparada para passar pela cirurgia. Mas não só isso, além de
passar por esses profissionais, a parte-autora, desde sua infância, não se
sente bem com seu sexo biológico.
O grande questionamento, que envolve
principalmente as ideias de Weber, é se o Estado deve ou não cobrir os gastos
da cirurgia e aprovar as mudanças dos documentos. Sob a perspectiva de Weber,
uma cirurgia de custos tão altos para benefício individual não seria palpável.
O Estado deve desembolsar uma quantia tão alta para uma cirurgia de transgenitalização
ou para a compra de remédios que auxiliariam inúmeras pessoas? O Estado deve desembolsar uma quantia tão alta
para uma cirurgia de transgenitalização ou para a pesquisa da cura de uma
doença? O Estado deve desembolsar uma quantia tão alta para uma cirurgia de
transgenitalização ou para a vacinação de milhares de crianças?
O questionamento é válido, mas
deixar de pagar a cirurgia requerida seria hipocrisia, sendo que transplantes,
laqueaduras, cirurgias bariátricas dentre muitas outras são realizadas pelo
SUS. Alguns podem argumentar que são casos de vida ou morte, ou que havia
necessidade da cirurgia. Uma transexual que sofre diariamente o preconceito, a
humilhação, a pressão da sociedade, desde a sua infância não tem necessidade de
se sentir bem consigo mesma? Não pode ter a oportunidade de finalmente ter um
direito fundamental conquistado? Sem contar a pratica do suicídio que, em casos
extremos, pode ocorrer.
O Estado deve parar de ser
negligente no assunto, e assumir suas responsabilidades e cumprir com o bem
estar de todos, não só do “proveitoso”. Ainda que não entramos no
questionamento de que a transexual será analisada portadora de uma patologia
para conseguir realizar sua cirugia.
Isadora Morini Paggioro - 1º ano Diurno
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