Percepção do errado: uma definição que te afeta.
- Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?
A
realidade que nos deparamos quando acordamos muitas vezes nos desamina, a
sensação de impotência frete a tudo nos engole a cada dia. A partir disso surge
um dos dilemas que separa a sociedade: há hoje no mundo muitas coisas
“erradas”. Dependendo de como se interpreta essa frase, e do que se atribuí
como “errado”, o indivíduo constrói-se no mundo e limita sua percepção do que o
rodeia.
É fácil
atribuir um discurso conservador quando se fala de “desvios” na atualidade, há
inúmeras falácias que vinculam termos
pejorativos a comunidades marginalizadas e atribuem a essas o conceito de
desviantes. Não é necessário ir longe para ouvir tais discursos. Apresentando-se
em mesas do almoço nas típicas famílias brasileiras, seja ao se referir a alguém
de dentro dessa ou de um caso de fora presenciado por eles, eles já estão
presentes a tempos no país. Para uma visão conservadora o mundo está seguindo
por um caminho que o leva a ruína. O mundo está indo para desordem.
Há, no
entanto, uma outra visão às “coisas erradas”.
Um segundo
ponto de vista nos apresenta a interpretação de que existe na verdade uma imposição
social para com massas, majoritariamente compostas de minorias, de costumes
ausentes de imaginação sociológica. Tão irreais e impossíveis de se realizar
que pouco a pouco adoece essa população, coisas erradas de serem
propagadas. Frases famosas como “trabalhe enquanto eles dormem”, ou promessas
falsas a partir de receitas milagrosas, seja de dietas esplendorosas que
oferecem um rápido emagrecimento ou de remédios milagrosos que curam tudo, vendem-se
online diariamente. Nenhum desses produtos cumprem com suas promessas, mas se
fixam como uma nova ordem a dominar, não somente a economia, mas outros ramos
da vida intima como os afetos, o trabalho e a saúde.
Ainda há costumes
errados, seriam aqueles que, normalizados pela sociedade, fomentam a violência
no meio. Tais como a objetificação da mulher, que gera ondas de machismo e feminicídio;
ou a subalternação da população negra que a matou, e mata muito desses até hoje,
além corroborar para criação de um sistema estruturalmente racista que perdura
até o século 21.
Ademais, trazendo
para o campo sociológico e aprofundando encontramos uma relação dessa percepção
de “coisas erradas” na teoria de Auguste Comte ao nos depararmos com as noções
de “desorganização” e “reorganização” social. A primeira surge da indignação
social com os erros de sua realidade e traria consigo caos e desordem à comunidade,
o conflito. A segunda se mostraria na tentativa de reequilíbrio dos pesos, uma
compensação que busca a “paz” e organização, um conserto. Num ciclo sem fim de
interpretação de “erros” e “desvios” teríamos esses dois polos alternando ou sobrepondo-se.
Por fim, independente de qual percepção que se interprete como “errado”, o ser construirá uma percepção sobre essa que influenciará sua visão de mundo e lhe dirá se está mais fácil ou mais difícil de acordar e encará-lo.
Maria Clara Moro Genesini, 1º ano de direito - noturno.
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