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segunda-feira, 7 de abril de 2025

Entre Números e Realidade: A Crítica ao Positivismo e suas Implicações nas Desigualdades Sociais

    Desde o século XIX, o positivismo se consolidou como uma das bases do pensamento moderno, ao defender a primazia da razão, da ciência e da ordem como fundamentos do progresso social. Essa filosofia, desenvolvida por pensadores como Auguste Comte, influenciou profundamente a forma como os Estados modernos se organizaram, especialmente no que se refere à administração pública e à formulação de políticas baseadas em dados objetivos. Contudo, ao desconsiderar aspectos subjetivos, históricos e culturais das populações, o positivismo ainda hoje colabora para a manutenção — e, por vezes, o agravamento — das desigualdades sociais em contextos políticos marcados por exclusões estruturais.

    A crítica ao positivismo parte do entendimento de que a realidade social não pode ser reduzida a números ou tratados como problemas meramente técnicos. A busca por uma suposta neutralidade e racionalidade absoluta frequentemente ignora as subjetividades, os afetos, as identidades e as condições históricas que moldam a vida de grupos sociais marginalizados. Nas políticas públicas atuais, isso se reflete, por exemplo, em programas que visam apenas a eficiência administrativa ou o equilíbrio fiscal, sem considerar os impactos humanos e sociais dessas medidas sobre populações vulneráveis.

    Um exemplo claro disso é a maneira como muitos governos tratam a pobreza e a desigualdade de renda. Ao se basearem exclusivamente em indicadores macroeconômicos, como o PIB ou o índice de produtividade, sem analisar as realidades vividas nas periferias e comunidades marginalizadas, tais políticas fracassam em promover justiça social. No Brasil, por exemplo, cortes em programas sociais, como o Bolsa Família, ou na verba destinada à saúde e à educação pública, são frequentemente justificados com argumentos técnicos e econômicos. No entanto, essa racionalidade positivista desconsidera os efeitos dessas decisões na vida de milhões de pessoas que dependem desses serviços para viver com dignidade.

    Além disso, o positivismo contribui para um modelo de Estado tecnocrático, que afasta o cidadão comum do processo decisório e deslegitima saberes populares e experiências subjetivas. Essa lógica reforça desigualdades epistêmicas: ou seja, apenas o saber técnico é valorizado, enquanto as vozes dos movimentos sociais, dos povos tradicionais, das mulheres negras, da população LGBTQIA+ e de outros grupos historicamente excluídos são ignoradas ou tratadas como “não científicas”. Assim, a promessa de “ordem e progresso” — lema positivista estampado na bandeira brasileira — não se realiza para todos, mas apenas para uma parcela da população privilegiada.

    O combate às desigualdades sociais exige uma abordagem que una dados objetivos com escuta ativa, participação popular e reconhecimento da diversidade de experiências humanas. Valorizar os saberes plurais, promover políticas sensíveis às realidades locais e garantir espaços democráticos de construção coletiva são caminhos para superar os limites de uma visão positivista.


Geisa Vitória Monteiro Pereira, 1º Ano - Direito (Noturno)

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