Total de visualizações de página (desde out/2009)

3144941

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Entre Darwinismo e Desigualdade: A Crítica de Machado de Assis à Ordem Natural da Sociedade

    Machado de Assis em sua obra “Quincas Borba” elabora uma pseudoteoria intitulada Humanitismo, em que consiste em uma paródia sobre o Darwinismo Social. Sua crítica parte do princípio da popularização de teorias científicas do século XIX, que, junto à Segunda Revolução Industrial e a corrida imperialista por recursos na África e na Ásia, ofereceu instrumentos para as potências da época colonizarem povos, usando como justificativa bases eugenistas. O autor demonstra durante a ascensão e decadência de Rubião, personagem principal, a concretização de sua tese, em que expõe a brutalidade de uma sociedade predatória pelo dinheiro e para ocupar papéis sociais de notoriedade, naturalizando desigualdades e legitimando privilégios, afinal, para a população daquele tempo, existia uma ordem natural para se entender a sociedade, e segui-la era o objetivo para se atingir o progresso. 

    Nesse sentido, o positivismo negligencia as dimensões subjetivas e culturais da experiência humana, como a moral, a religião e a arte ao focar em fatos observáveis, deixando de lado aspectos importantes da vida social. Além disso a teoria se afasta da realidade ao elaborar teses deterministas e uma visão linear da história da sociedade, ignorando a imprevisibilidade e complexidade dos eventos históricos bem como retrocessos e crises. Casos como o que vivemos no governo de Jair Messias Bolsonaro exemplificam a predominância desse pensamento quando o ex ministro da economia Paulo Guedes comentou a vantagem da alto no valor do dólar, uma vez que “empregadas domésticas estavam indo muito para a Disney”. Esse tipo de discurso é reproduzido por instâncias de poder já que não veem problemas em usar lógicas discriminatórias para excluir pessoas de seus direitos e dignidades, como a possibilidade de ter um espaço de lazer e diversão, usando para isso a justificativa de elas não pertencerem naturalmente a esses espaços. 

    Assim, a corrente sociológica discutida encontra dificuldade em explicar a individualidade humana e a realidade social. Ela retrocede nosso pensamento e desenvolvimento como seres humanos justamente por não seguirmos uma ordem natural. Construímos e transformamos a sociedade que vivemos com nosso esclarecimento e experiências, não nos devendo limitar por simples regras naturais, já que a experiência humana é pautada na subjetividade que não pode ser captada totalmente por métodos objetivos.

Sophia Rossato Ferro, 1º Ano - Direito (Noturno)

Nenhum comentário:

Postar um comentário