Total de visualizações de página (desde out/2009)

3137108

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Positivismo x Senso comum

Carlos tem crescido e aprendido com o mundo o que pensou que já sabia sobre o próprio mundo. Curioso como alguns conceitos podem mudar tão rápido na mente manipulável de um jovem. Curioso que a única coisa que é preciso para aprender a usar a lógica, é o próprio pensamento lógico.

Afinal, quem nunca ouviu de algum familiar que comer manga com leite faz mal? Ou qual a criança que não foi repreendida por deixar os chinelos de cabeça pra baixo? “Não olhe para o espelho depois de comer, ou sua boca vai entortar!” sua mãe dizia.  O senso comum é esse conhecimento que vem dos costumes, das vivências cotidianas, é passado pelas gerações quase como regra. Mas também, assim como as superstições, é superficial e não deriva de uma grande reflexão. E Carlos não precisou de muito tempo para aprender isso.

Bastou uma simples aula de filosofia... ou sociologia? Ele não se lembrava exatamente qual disciplina era, o mesmo professor lecionava as duas, as duas em uma. Uma carga de horário reduzida atrapalha, e muito, a compreensão do que era dito naquele breve momento, no qual com maestria, estudantes de 16 anos eram persuadidos a pensar com as próprias cabeças. O jovem não se lembrava qual a corrente filosófica estudada, ou quem era o seu pensador. Não sabia exatamente a origem ou os conceitos desse tal positivismo. Apesar de ser muito relevante dar nomes aos bois, não seria melhor primeiro entender sobre esses animais? Talvez essa tenha sido uma escolha imprudente por parte do professor. Essa, de não os fazer decorar termos e conceitos por ele também decorados. Essa, genuína, para não dizer ingênua, decisão de acreditar que mais importa criar neles a capacidade de refletir e obter conclusões a partir da sua própria observação do mundo. Num curto tempo, ensinar a aprender sobre o mundo com o próprio mundo.

Carlos não focou nos termos, mas conheceu uma doutrina que tenta buscar a razão e que se afasta de crenças e tradições para estudar e compreender a sociedade. Definir que sociedade se estuda com método e não com achismos. Muitos naquela classe podem não ter tido o mesmo sentimento de epifania e realização que ele teve. Talvez outra criança inspirada, assim como ele, tenha chegado em casa e finalmente perguntado para a mãe, por que manga com leite faz mal, se a manga é rica em vitaminas e nutrientes, e o leite fonte de carboidratos e proteínas. Talvez essa criança tenha cessado as perguntas quando ouviu um “por que sim” ou um “foi o que sua avó me ensinou”. Mas existe uma pequena possibilidade, de que na próxima vez que for enfrentar uma chuva, Carlos abra guarda-chuva ainda dentro de casa. Caso acabe quebrando um espelho, apenas irá a recolher os cacos e comprar um novo, sem se preocupar com o azar. Talvez ele não dê mais soquinhos na madeira. E talvez, goste de vitamina de manga com leite.

 

“Todos os bons intelectos têm repetido, desde o tempo de Bacon, que não pode haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em fatos observáveis.”

—  Auguste Comte, livro Curso de filosofia positiva

 

Evelly Alonso Lopes - 1º Direito Noturno

Um comentário:

  1. Você escreve muito bem! Apresentou o tema de forma clara, sem a necessidade de grandes explicações, e por meio de exemplos palpáveis, expôs sua opinião, adicionando humanidade e um tom de prosa ao assunto.

    ResponderExcluir