Carlos tem crescido e aprendido
com o mundo o que pensou que já sabia sobre o próprio mundo. Curioso como
alguns conceitos podem mudar tão rápido na mente manipulável de um jovem. Curioso
que a única coisa que é preciso para aprender a usar a lógica, é o próprio
pensamento lógico.
Afinal, quem nunca ouviu de algum
familiar que comer manga com leite faz mal? Ou qual a criança que não foi
repreendida por deixar os chinelos de cabeça pra baixo? “Não olhe para o
espelho depois de comer, ou sua boca vai entortar!” sua mãe dizia. O senso comum é esse conhecimento que vem dos
costumes, das vivências cotidianas, é passado pelas gerações quase como regra. Mas
também, assim como as superstições, é superficial e não deriva de uma grande
reflexão. E Carlos não precisou de muito tempo para aprender isso.
Bastou uma simples aula de
filosofia... ou sociologia? Ele não se lembrava exatamente qual disciplina era,
o mesmo professor lecionava as duas, as duas em uma. Uma carga de horário
reduzida atrapalha, e muito, a compreensão do que era dito naquele breve
momento, no qual com maestria, estudantes de 16 anos eram persuadidos a pensar
com as próprias cabeças. O jovem não se lembrava qual a corrente filosófica
estudada, ou quem era o seu pensador. Não sabia exatamente a origem ou os
conceitos desse tal positivismo. Apesar de ser muito relevante dar nomes aos
bois, não seria melhor primeiro entender sobre esses animais? Talvez essa tenha
sido uma escolha imprudente por parte do professor. Essa, de não os fazer
decorar termos e conceitos por ele também decorados. Essa, genuína, para não
dizer ingênua, decisão de acreditar que mais importa criar neles a capacidade
de refletir e obter conclusões a partir da sua própria observação do mundo. Num
curto tempo, ensinar a aprender sobre o mundo com o próprio mundo.
Carlos não focou nos termos, mas
conheceu uma doutrina que tenta buscar a razão e que se afasta de crenças e tradições
para estudar e compreender a sociedade. Definir que sociedade se estuda com método
e não com achismos. Muitos naquela classe podem não ter tido o mesmo sentimento
de epifania e realização que ele teve. Talvez outra criança inspirada, assim
como ele, tenha chegado em casa e finalmente perguntado para a mãe, por que
manga com leite faz mal, se a manga é rica em vitaminas e nutrientes, e o leite
fonte de carboidratos e proteínas. Talvez essa criança tenha cessado as
perguntas quando ouviu um “por que sim” ou um “foi o que sua avó me ensinou”. Mas
existe uma pequena possibilidade, de que na próxima vez que for enfrentar uma chuva,
Carlos abra guarda-chuva ainda dentro de casa. Caso acabe quebrando um espelho,
apenas irá a recolher os cacos e comprar um novo, sem se preocupar com o azar.
Talvez ele não dê mais soquinhos na madeira. E talvez, goste de vitamina de
manga com leite.
“Todos os bons intelectos têm repetido, desde o tempo de
Bacon, que não pode haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em
fatos observáveis.”
— Auguste Comte, livro Curso de filosofia positiva
Você escreve muito bem! Apresentou o tema de forma clara, sem a necessidade de grandes explicações, e por meio de exemplos palpáveis, expôs sua opinião, adicionando humanidade e um tom de prosa ao assunto.
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