Auguste
Comte preconiza que a sociedade é gerida por duas leis universais: a estática,
que corresponde à ordem e à imutabilidade, e a dinâmica, relacionada ao
progresso tecnológico e científico. Dessa forma, a busca pela individualidade
por cada um seria o caos e a desordem, impedindo o progresso, o que constitui o
cerne do pensamento positivista. Contudo, tal visão condena a conquista de
direitos por parte das minorias, já que esse fato desvia a linearidade que
antes se mantinha. Logo, é mantido um “padrão” hegemônico que reina há séculos,
no qual o homem hétero, cis e branco é privilegiado e, consequentemente, busca
a manutenção de tais garantias.
Nesse
contexto, quando analisamos casos como a concessão do uso do nome social para
pessoas trans e o reconhecimento da identidade de gênero desses indivíduos na
administração pública federal, através do Decreto nº 8.727/2016, sob a ótica
positivista, tal cenário seria visto como anormal, por desafiar a “normalidade”
da heterossexualidade antes dominante. Assim, deveria ser reprimido e contido,
já que impediria o progresso. É por esse motivo que, quando ocorre um progresso
real que garante novos direitos para diferentes grupos sociais, que passam a
ser amparados pelas leis, juntamente com essa conquista, há uma reação de um
movimento retrógrado positivista, que visa retomar a linearidade, como por
exemplo, a tentativa de veto do decreto por uma grande parcela da “bancada
evangélica”.
Portanto,
o direito é de suma importância para romper com esse pensamento e dar voz aos
movimentos sociais, tornando negros, trans e mulheres sujeitos de direito,
impedindo assim a prevalência dos movimentos de recessão que buscam uma
condensação de tais garantias conquistadas. Em suma, o positivismo, pensamento
enraizado em diferentes mazelas sociais, como o extermínio de povos originários,
episódios de transfobia e diversos outros exemplos, demonstra que os
privilégios garantidos somente às elites são insustentáveis, devendo se
estender para as diferentes camadas sociais, apesar do consequente movimento
regressivo que venha a ser gerado.
Por
fim, é perceptível que diferentes grupos tiveram suas vozes silenciadas, seus
direitos cerceados e sua identidade minada pelas elites, pelo padrão que lhes é
imposto e que os caracteriza como “anormais”, como um retrocesso. Dessa forma, suas
identidades, conquistas e lutas são encobertas pela lógica hegemônica que garante
o domínio de uma pequena parcela social sobre diversos grupos de indivíduos,
com histórias e lutas riquíssimas, que, ao se tornarem sujeitos de direito e terem as suas reivindicações ouvidas, vislumbram uma nova realidade e podem enfim desafiar
o que até então era tido como “normal” e se expressarem sem terem seus
direitos feridos.
Gustavo Zoca Goulart de Andrade, primeiro ano noturno
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