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segunda-feira, 7 de abril de 2025

Mundo inabitável, Ordem inadmissível

 A sensação de colapso atravessa o debate público global. A intensificação de crises políticas, sociais e ambientais evidencia os limites da ordem internacional vigente. Esta reflexão parte da provocação: “estamos diante de um mundo fora de ordem ou de uma ordem que já não comporta mais nenhum mundo possível?” feita após a palestra promovida pelo movimento estudantil Afronte! a qual foi designada: Estamos no fim do mundo? Trump, Palestina, Ecossocialismo e Cotas trans.


 Através da análise de quatro eixos interligados — o avanço do trumpismo, a urgência ecossocialista, as ações afirmativas trans e a luta do povo palestino — busca-se compreender como tais fenômenos expressam não apenas crises setoriais, mas um colapso sistêmico. Proponho assim, uma leitura interseccional que aponta para a necessidade de ruptura e reinvenção.


O trumpismo como projeto global de desdemocratização


 O mandato de Donald Trump representou de 2017 a 2021 e voltou a representar em 2025 a consolidação de um projeto autoritário global, que ultrapassa o cenário estadunidense e inspira movimentos de extrema direita em diversas regiões. Ao assinalar em suas ordens executivas: “Pela autoridade investida em mim como Presidente pela Constituição dos Estados Unidos da América…” Trump traduziu, constitucionalizou e globalizou sua retórica racista, misógina, antidemocrática, xenofóbica e anticientífica, a transformando em políticas que atacam direitos civis, ambientais e sociais, ao mesmo tempo em que normalizam o uso da violência simbólica e institucional (BROWN, 2019; GIRARDET, 2021).


 Mais do que um sintoma, o trumpismo opera como modelo internacional de erosão democrática — deslegitimando instituições, desinformando deliberadamente a população e promovendo um imaginário político regressivo.


Ecossocialismo : A Primavera que o Capital Não Previu


 A emergência climática atual não pode ser dissociada da lógica capitalista de produção e consumo. Propostas como o capitalismo verde se revelam insuficientes frente à urgência ecológica, pois mantêm intacta a estrutura extrativista e excludente que produz a devastação ambiental (KLEIN, 2016).


 O ecossocialismo, nesse contexto, propõe uma transição radical: é necessário substituir a lógica do lucro pela da vida, garantindo soberania popular sobre os recursos naturais, justiça climática e revalorização dos saberes dos povos originários e tradicionais (LOWY, 2020).


Cotas trans como instrumento de justiça redistributiva e epistêmica


 A transfobia estrutural no Brasil e em outros países se manifesta em desigualdades profundas no acesso à educação, trabalho e cidadania. As ações afirmativas para pessoas trans, como as cotas em universidades e concursos, são respostas a esse apagamento histórico.

 Mais do que medidas compensatórias, as cotas trans desafiam a normatividade cisgênera institucional, propondo a transformação das estruturas que produzem desigualdade (BENTO, 2017). Elas operam tanto no plano redistributivo quanto no reconhecimento epistêmico de existências historicamente silenciadas.


Palestina: Entre o Direito Internacional, Indiferença Estrutural e Resistência


 A ocupação da Palestina pelo Estado de Israel constitui uma violação sistemática dos direitos humanos, configurando um regime de apartheid segundo organizações internacionais e pesquisadores/as (PAPPE, 2016;

BUTLER, 2020). A seletividade da comunidade internacional em relação à Palestina expõe a hipocrisia de uma ordem baseada em interesses geopolíticos e econômicos, e não em valores universais.

 A resistência palestina conecta-se, simbolicamente e politicamente, às lutas contra o colonialismo, o racismo e o imperialismo em escala global, sendo parte fundamental de uma cartografia planetária de emancipação (DAVIS, 2016).


Convergência das lutas como reinvenção do mundo


 Ecossocialismo, cotas trans, Palestina e resistência ao trumpismo não são agendas isoladas. Elas representam fissuras em um mesmo sistema de opressão e apontam para possibilidades de mundos alternativos.

 Em comum, essas lutas denunciam a necropolítica contemporânea

(MBEMBE, 2018) e reivindicam a centralidade da vida — humana e não humana - como horizonte político.

Convergir essas pautas não é apenas estratégia, mas imperativo ético. Em tempos de colapso, a solidariedade entre as lutas é a única forma possível de reconstrução. A única forma, assim como proposto pelo festival, de demonstrar que a vida ainda presta.


                              -Elisama S. Braga, 1º ano Direito Matutino.

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