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segunda-feira, 7 de abril de 2025

O Preço do Progresso

 

Durante os séculos XVIII e XIX, a Revolução Industrial se alastra pela Europa e provoca grandes transformações sociais, especialmente no aspecto econômico, iniciando, por conseguinte, uma nova era do capitalismo: o industrial. A economia, antes baseada na acumulação de metais preciosos e na exploração das colônias, entra agora em uma nova fase e nos apresenta um mundo novo, no qual a produção atinge níveis extraordinários — antes inimagináveis — e, portanto, insere a sociedade em uma realidade de abundância e intensificação do comércio. Todavia, por trás de todo esse progresso estavam os trabalhadores, que sucumbiam dia após dia a jornadas de trabalho que variavam entre 14 e 18 horas, na maioria das vezes em condições extremamente precárias e sem qualquer direito trabalhista.

Nesse sentido, o sociólogo francês Auguste Comte, contemporâneo à época, funda a corrente filosófica do positivismo. Tal pensamento buscava compreender as leis naturais que regem a sociedade, para que, através do conhecimento científico e do progresso técnico, fosse estabelecida coesão e estabilidade ao corpo social. Entretanto, essa visão acabou servindo de justificativa às desigualdades sociais geradas por toda aquela busca excessiva por capital, legitimando que a “ordem” estabelecida era um mal necessário para o progresso geral. Essa lógica reduz o ser humano a peças de uma cadeia produtiva, transformando a vida em produto, tudo em prol do “vil metal”. Desse modo, essa forma de enxergar a realidade ainda reverbera na atualidade, uma vez que as jornadas abusivas, mesmo que significativamente menores do que nos tempos da Revolução Industrial, persistem em diversos setores em nome do progresso, que desde aquela época até os dias de hoje é sinônimo de produtividade. Logo, podemos constatar que a engrenagem segue funcionando, agora com novas faces, mas sustentada por uma lógica parecida com a do século XIX: para que alguns possam ter “acesso” ao tão famigerado progresso, muitos precisam ser deixados para trás.

Conclui-se, então, que o positivismo não é apenas uma visão do passado; ele ainda serve como um discurso que ajuda a manter o status quo. Ao colocar os interesses produtivos acima do bem-estar coletivo, não há progresso real, mas sim a fomentação do egoísmo e do individualismo — valores que, ao invés de impulsionarem a sociedade, contribuem para sua degeneração. Por fim, deixo uma pergunta: o progresso vale mais que a dignidade humana?


João Marcos Borges Silva -  1º ano - Direito (noturno)

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