Durante os séculos XVIII e XIX, a
Revolução Industrial se alastra pela Europa e provoca grandes transformações
sociais, especialmente no aspecto econômico, iniciando, por conseguinte, uma
nova era do capitalismo: o industrial. A economia, antes baseada na acumulação
de metais preciosos e na exploração das colônias, entra agora em uma nova fase
e nos apresenta um mundo novo, no qual a produção atinge níveis extraordinários
— antes inimagináveis — e, portanto, insere a sociedade em uma realidade de
abundância e intensificação do comércio. Todavia, por trás de todo esse progresso
estavam os trabalhadores, que sucumbiam dia após dia a jornadas de trabalho que
variavam entre 14 e 18 horas, na maioria das vezes em condições extremamente precárias
e sem qualquer direito trabalhista.
Nesse sentido, o sociólogo
francês Auguste Comte, contemporâneo à época, funda a corrente filosófica do
positivismo. Tal pensamento buscava compreender as leis naturais que regem a
sociedade, para que, através do conhecimento científico e do progresso técnico,
fosse estabelecida coesão e estabilidade ao corpo social. Entretanto, essa
visão acabou servindo de justificativa às desigualdades sociais geradas por
toda aquela busca excessiva por capital, legitimando que a “ordem” estabelecida
era um mal necessário para o progresso geral. Essa lógica reduz o ser humano a
peças de uma cadeia produtiva, transformando a vida em produto, tudo em prol do
“vil metal”. Desse modo, essa forma de enxergar a realidade ainda reverbera na
atualidade, uma vez que as jornadas abusivas, mesmo que significativamente
menores do que nos tempos da Revolução Industrial, persistem em diversos
setores em nome do progresso, que desde aquela época até os dias de hoje é
sinônimo de produtividade. Logo, podemos constatar que a engrenagem segue
funcionando, agora com novas faces, mas sustentada por uma lógica parecida com
a do século XIX: para que alguns possam ter “acesso” ao tão famigerado
progresso, muitos precisam ser deixados para trás.
Conclui-se, então, que o
positivismo não é apenas uma visão do passado; ele ainda serve como um discurso
que ajuda a manter o status quo. Ao colocar os interesses produtivos
acima do bem-estar coletivo, não há progresso real, mas sim a fomentação do
egoísmo e do individualismo — valores que, ao invés de impulsionarem a
sociedade, contribuem para sua degeneração. Por fim, deixo uma pergunta: o progresso
vale mais que a dignidade humana?
João Marcos Borges Silva - 1º ano - Direito (noturno)
Nenhum comentário:
Postar um comentário