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domingo, 15 de abril de 2018

Uma nova dicotomia


Karl Marx e Friedrich Engels preconizavam a existência de um confronto de classes baseado na dualidade opressor versus oprimido. Contudo, a existência deste embate tomou uma forma curiosa a partir de meados de 1910, onde se iniciou a institucionalização de direitos trabalhistas em virtude da efervescência de movimentos de trabalhadores no século XIX, que clamavam por tais direitos e se acentuou a partir dos anos 1970 com a queda do Keynesianismo.
A alteração desta dicotomia pode ser evidenciada, no exemplo do Brasil, no fato de quem mais se opõe às ações afirmativas não são os brasileiros mais ricos; e sim, a classe média. Estas alterações podem ser atribuídas a várias mudanças, uma delas, é o distanciamento entre patrão e empregado.
Com o surgimento das grandes corporações, os patrões que outrora vigiavam seus empregados de perto, muitas vezes pessoalmente, delegaram esta função a outros empregados, que por sua vez possuíam uma renda maior do que os trabalhadores que vigiavam. Os donos das fábricas podiam residir até mesmo em outros continentes, blindando-se das reivindicações de seus empregados, enquanto outras pessoas lidavam com estes problemas sem ter o poder de responde-los adequadamente.
Como os ricos agora viviam em bolhas, isolando-se da realidade geral, as classes intermediarias passaram a crer que são os detentores do poder. A classe média se opõe ferozmente a programas de distribuição de renda, enquanto donos de industrias comemoram o mesmo programa, mesmo que indiretamente ao checar o aumento do consumo de seus produtos em uma região pobre que raramente os consumia.
   A classe média brasileira rejeita a sua própria interpretação distorcida do comunismo, ao temer perder sua propriedade, estando tão cegos que sequer percebem que não possuem propriedade alguma que possa ser tão relevante a ponto de ser desapropriada por um governo comunista hipotético. A classe média do Brasil adora os ideais liberais e clama pelo livre mercado, enquanto parece crer que será beneficiada pelo mercado especulativo do qual não faz parte.
Esta luta de classes, em que os participantes não têm nada a ganhar se enfrentando pode ser vista não apenas na classe média brasileira, mas em boa parte do mundo liberal capitalista.
A má interpretação sobre contra quem lutar ou até mesmo do que é o socialismo pode ser vista na fala de um dos maiores nomes liberais: Ludvwig von Mises. Certa vez, em uma reunião da Mont Pélerim Society, uma sociedade liberal fundada por Friedrich von Hayek que possuía grandes nomes do liberalismo como membros, propôs em 1947 a distribuição de renda e a taxação progressiva como forma de alavancar a economia devastada do pôs guerra. Contudo esta proposta feita por Milton Friedman fora rechaçada veementemente por Mises, que em fúria bradou: ‘’vocês são um bando de socialistas! ‘’ e abandonou o grupo.
Como visto, a luta de classes atual não se parece mais pautada pela busca de direitos ao confrontar quem detêm os meios de produção, mas sim e em uma caça às bruxas em que o inimigo é aquele que discorda do meu ponto de vista e não aquele que me prejudica.

Caíque Barreto da Silva. 1 Ano, Turma XXXV matutino

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