Karl
Marx e Friedrich Engels preconizavam a existência de um confronto de classes
baseado na dualidade opressor versus oprimido. Contudo, a existência deste
embate tomou uma forma curiosa a partir de meados de 1910, onde se iniciou a institucionalização
de direitos trabalhistas em virtude da efervescência de movimentos de
trabalhadores no século XIX, que clamavam por tais direitos e se acentuou a
partir dos anos 1970 com a queda do Keynesianismo.
A
alteração desta dicotomia pode ser evidenciada, no exemplo do Brasil, no fato
de quem mais se opõe às ações afirmativas não são os brasileiros mais ricos; e
sim, a classe média. Estas alterações podem ser atribuídas a várias mudanças,
uma delas, é o distanciamento entre patrão e empregado.
Com
o surgimento das grandes corporações, os patrões que outrora vigiavam seus
empregados de perto, muitas vezes pessoalmente, delegaram esta função a outros
empregados, que por sua vez possuíam uma renda maior do que os trabalhadores
que vigiavam. Os donos das fábricas podiam residir até mesmo em outros
continentes, blindando-se das reivindicações de seus empregados, enquanto
outras pessoas lidavam com estes problemas sem ter o poder de responde-los
adequadamente.
Como
os ricos agora viviam em bolhas, isolando-se da realidade geral, as classes
intermediarias passaram a crer que são os detentores do poder. A classe média
se opõe ferozmente a programas de distribuição de renda, enquanto donos de
industrias comemoram o mesmo programa, mesmo que indiretamente ao checar o aumento
do consumo de seus produtos em uma região pobre que raramente os consumia.
A classe média brasileira rejeita a sua
própria interpretação distorcida do comunismo, ao temer perder sua propriedade,
estando tão cegos que sequer percebem que não possuem propriedade alguma que
possa ser tão relevante a ponto de ser desapropriada por um governo comunista
hipotético. A classe média do Brasil adora os ideais liberais e clama pelo
livre mercado, enquanto parece crer que será beneficiada pelo mercado
especulativo do qual não faz parte.
Esta
luta de classes, em que os participantes não têm nada a ganhar se enfrentando
pode ser vista não apenas na classe média brasileira, mas em boa parte do mundo
liberal capitalista.
A
má interpretação sobre contra quem lutar ou até mesmo do que é o socialismo
pode ser vista na fala de um dos maiores nomes liberais: Ludvwig von Mises.
Certa vez, em uma reunião da Mont Pélerim Society, uma sociedade liberal
fundada por Friedrich von Hayek que possuía grandes nomes do liberalismo como
membros, propôs em 1947 a distribuição de renda e a taxação progressiva como forma
de alavancar a economia devastada do pôs guerra. Contudo esta proposta feita
por Milton Friedman fora rechaçada veementemente por Mises, que em fúria bradou:
‘’vocês são um bando de socialistas! ‘’ e abandonou o grupo.
Como
visto, a luta de classes atual não se parece mais pautada pela busca de
direitos ao confrontar quem detêm os meios de produção, mas sim e em uma caça às
bruxas em que o inimigo é aquele que discorda do meu ponto de vista e não
aquele que me prejudica.
Caíque
Barreto da Silva. 1 Ano, Turma XXXV matutino
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