O debate acerca do âmago
originador da razão é extenso. Desde Kant e o internacionalismo da razão,
passando pela Escola Histórica e a visão de vontade do povo e chegando em Hegel
e sua postura centralizadora do Estado, tal reflexão leva a inúmeras resoluções.
E é neste cenário de ideias que surge uma nova visão, a marxista, que define a
razão como originária de um ideal de uma classe específica. Dessa forma, Marx
relaciona o Direito (e todos os outros desdobramentos da sociedade) a concepção
de vontade da classe dominante. Porém, a postura de Marx acerca do modo de
produção revela-se revolucionária e, por consequência, alteradora da
sistemática que o rege, sendo assim geradora de questionamentos sobre a
validade de toda a sua acepção, questionamentos esses que muitas vezes
justificam o pensamento materialista dialético.
Partindo da visão de que a estrutura molda a superestrutura,
ou seja, as formas de produção permeiam e controlam as ideias (e outras
expressões) que pairam sobre imaginário social, tem-se uma rápida conclusão de
que qualquer modo de produção - seja ele primitivo, asiático, escravista,
feudal, capitalista, socialista ou comunista - formará uma ideia de realidade
que dar-se-á respaldo a sua sistemática, tornando-a irrefutável e medida para
todas as coisas. Assim, qualquer concepção que gere atritos à realidade
estabelecida faz-se absurda, pois não corresponde as posturas consideradas
lógicas do momento vigente. A exemplo, tem-se o homem feudal que não possuía a
concepção de riqueza e acumulo de capital, visto que este vivia em um domínio
onde a terra era o nivelador da prosperidade e seu validador era baseado na
ideia divina. Porém, séculos posteriores, a burguesia tornou-se detentora do
poder econômico em meio ao eixo urbano sendo apoiada por uma religião recém
criada.
Estendendo este ponto e fazendo referência novamente as
inúmeras concepções de razão, durante a ascensão da burguesia ao poder, o
pensamento universalista de Kant que justificava a necessidade do fim do
absolutismo demonstrava ser a base do direito para a burguesia. No entanto,
quando na França esta mesma classe dominou o poder, a visão Kantiana foi
ignorada e abriu espaço para Hegel e o Estado validador do direito. Este
cenário histórico faz alusão ao posicionamento marxista, visto que a razão de
um povo se fez baseada na necessidade de uma classe dominante, a burguesia. No
fim, a verdade revela-se maleável e demonstra, novamente, coerência ao
materialismo histórico.
Posto tais reflexões, será que o materialismo dialético
ainda se faz tão impróprio ou improvável? A conclusão não é validar o comunismo,
promove-lo a melhor modo de produção ou elevar Karl Marx a um nível
incontestável, mas sim implantar a dúvida em uma verdade que se mostra não tão
única e provar que um sociólogo considerado clássico possui excelência que se
faz maior que posicionamentos políticos. Afinal, não somos servos em um feudo,
mas ainda sim somos ínfimos perante a síntese desta dialética.
Matheus Faria de Souza Paiva (diurno) - Turma XXXV
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