A dimensão social explorada por Karl Marx e Friedrich Engels representou não somente uma revolução no olhar face à filosofia alemã, a qual se voltava para o idealismo e para fraseologia, como também quanto ao seu método, ora absolutamente comprometido com a radicalidade dos fatos e com a praticidade científica. O rigor do materialismo de Marx e Engels se revela com contornos ainda mais precisos se vistos em seu aspecto mais amplo, de modo que se nota a precisão estatística - vulgarmente tida como "profética" - de que se utiliza para antever o fenômeno tido como irresistível: O Socialismo.
A inevitabilidade do socialismo, segundo a perspectiva dos autores referidos, - doravante denominada Marxista - é justificada pela dita análise estatística, que se nos apresenta, de forma literal, na obra Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico (1887), escrita por Engels: " o socialismo aparecia [...] como o produto necessário da luta entre as duas classes formadas historicamente: o proletariado e a burguesia. ." Por avaliar a realidade de sua época e compará-la com aquela vivida em outros momentos da história, a lógica marxista presumiu a permanência da ordem dialética que levaria a consolidação do capitalismo e, por conseguinte, da opressão da burguesia sobre o operariado.
No entanto, embora considerasse irreversível o destino da sociedade capitalista, o Marxismo não descartou a necessidade de informação do operário a respeito de sua condição. Para os estudiosos, a gravidade de opressão associada a inversão trazida pela religião impedia o autoconhecimento, sendo mister a intervenção de um catalisador do processo que culminaria na afirmação do domínio do proletariado. Para cumprir papel educativo, didático e publicitário, publica-se o Manifesto Comunista (1848), cujo destinatário primordial é o operário oprimido, de quem se espera contrapartida a partir do instante em que toma consciência de si. Contudo, contrariamente à expectativa, a contrapartida se origina no opressor, que decodifica a mensagem contida no Manifesto e passa a oprimir em defesa da liberdade e da justiça sociais, o que se expressa na forma da lei.
Isso posto, a possibilidade de evitar o dito inevitável foi alçada como prioridade da classe dominante, a burguesia, a partir do surgimento de ameaça ao status quo. Tal burguesia, través de mobilizações que se voltaram a incorporar, no direito positivado por ela mesma mantido, reivindicações da classe operária, passou a ser vista como defensora do oprimido. Esse fenômeno, cabalmente anunciado pelo nascimento da Social-Democracia, se não impediu a revolução presumida por Marx e Engels, protelou-a de tal maneira a fazer do socialismo um projeto astronomicamente distante e tornar a burguesia não somente a referência do proletariado, como também sua razão de ser.
Por fim, a dimensão pela qual Marx e Engels analisam a sociedade mostra-se, ainda, verdadeira. Efetivamente, tanto a burguesia como o operariado se revelam classes atuantes que se antepunham, mas cujos limites se interpenetram na realidade do século XXI, de tal maneira a constituir-se uma nova classe, de acordo com a dimensão marxista: a classe-média. Essa classe, assumidamente social-democrata, ao contrário de se assumir como dissidente da burguesia ou do operariado, consiste na síntese dialética de ambas, síntese essa não contemplada na "profecia" dos socialistas.
João Pedro Santos Frari, Turma XXXV, Diurno
Nenhum comentário:
Postar um comentário