Se analisarmos a história do Brasil, perceberemos que em boa
parte desta houve um grupo minoritário, detentor do poder, que oprimia a
maioria da população. Essa situação foi observada durante a monarquia, o período
da República das Oligarquias, o governo varguista e, mais recentemente, o
Regime Militar. Na verdade, tal situação, infelizmente, pode ser observada
também nos dias atuais, mas com uma diferença: nos encontramos em uma
democracia. Aliás, a atual constituição foi elaborada justamente no
momento posterior a um período de muita repressão e, naquele momento, muitos
desejavam direitos para toda a população, incluindo os grupos minoritários e
sem tanta expressão social até então. Entre tais direitos está a liberdade de
expressão.
Presenciamos na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
UNESP Franca uma violação de tal direito. Durante um evento que organizara uma
palestra com Dom Bertrand de Orleans e Bragança, um grupo de manifestantes
invadiu o anfiteatro gritando frases de apoio à reforma agrária e xingamentos
como “nazista” e “assassino” ao chamado “príncipe”. Um dos argumentos dos
manifestantes era o de que a universidade pública, enquanto espaço público e
pertencente a um Estado democrático, não poderia tolerar a presença de alguém antidemocrático
e que costuma fazer discursos de ódio – o que fere a constituição. No entanto,
se a universidade é um espaço público pertencente a um Estado democrático não
deveria garantir o direito da exposição das mais diversas ideologias e
posicionamentos políticos? Além disso, considerando que muitos alunos presentes
no local gostariam de ter assistido à palestra, não fora essa uma atitude
também antidemocrática?
Claramente, a maioria dos alunos era contrária àquilo que
Bertrand costuma defender em seus discursos, que em geral são bastante
conservadores e agressivos. Mas, ainda assim, muitos queriam ter tido a
oportunidade de assistir à palestra. Desse modo, cada um poderia a partir do
que seria dito, formar a sua própria opinião acerca do tema, além de confrontar
as ideias do palestrante através de um debate.
A organização do movimento estudantil foi válida, pois
reuniu pessoas para a realização de um debate a respeito dos discursos de
Bertrand e do convite que este recebera para realizar a palestra na UNESP (no
momento anterior à palestra). Esse tipo de discussão é bastante importante no
meio universitário e na sociedade como um todo. Contudo, da mesma forma que o
movimento estudantil luta para que a universidade seja um ambiente para
qualquer tipo de pessoa e para ter o direito de expor suas ideias sem que sejam
reprimidos por isso, não deveria ter expulso um convidado da universidade sem
ao menos dar a chance deste falar e daqueles que estavam presentes na palestra,
escutarem. Uma atitude assim prejudica a imagem do próprio movimento estudantil
frente a outros alunos e funcionários da universidade, além de dar oportunidade
à mídia de destacar os pontos negativos das ações do mesmo, distanciando-o
ainda mais do restante da população.
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