Émile Durkheim, em sua obra “A
Solidariedade devida à divisão do trabalho ou orgânica”, mostra, como já citado em texto anterior, o conceito da
chamada Solidariedade Orgânica, que,
segundo ele, mais se aplica à sociedade moderna. Sendo a Solidariedade a responsável pela coesão social, na Solidariedade Orgânica, de forma mais
específica, cada indivíduo contribui com o todo com a realização de sua própria
função, o que nos torna dependentes uns dos outros. Como um conjunto de
engrenagens. E essa mesma Solidariedade
Orgânica permaneceu no tempo e alcançou a nossa sociedade pós-moderna.
Vários acontecimentos nesses últimos dias -não, não vou falar
da presença do “Príncipe”- fizeram com que eu novamente me lembrasse de nossas
aulas de Sociologia, e enxergasse na prática o que discutimos em teoria. Isso
me mostrou não só que podemos adaptar a teoria durkheiminiana hoje em dia,
mostrando o quão atual ela pode ser, como também o quanto tudo isso está tão
próximo de nossa realidade cotidiana.
Nessa semana, meus pais venderam a casa em que vivemos os
últimos dez anos na pacata cidade do interior. E agora, para onde iremos? Pois
é, não sei. Depende. Depende, primeiramente,
se meu pai ainda deseja permanecer na cidade de seu nascimento. Como a resposta
é sim, depende se conseguirão
contratar um trabalhador que construa uma nova casa. Sim, meus pais dependem de seu tempo e, principalmente
de seu trabalho. Em troca, esse trabalhador receberá dinheiro. Suas contas dependerão desse pagamento. Dependência... É essa a palavra de
ordem da Solidariedade Orgânica. É
esse ciclo que, em nossas relações capitalistas, nos vem corroendo, por
padronizar, fixar como sucesso algo que não precisa ser regra geral. Um vício,
uma dependência. Meu futuro – brilhante?! – dependerá de meus estudos. Mas só será brilhante se eu alcançar,
principalmente, grande êxito financeiro. - Será?!
Em cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo. Então, meu
pai foi pedir informações a um conhecido sobre algum pedreiro caprichoso e que
tivesse disponível para realizar um serviço reparatório simples antes de
entregar a casa ao comprador. E foi aí que mais uma vez notei o quanto nem
sempre podemos nos autorrotular “modernos”, e que, por vezes, ainda voltamos à Solidariedade Mecânica. A resposta foi
dada sem muitos pudores: “O único livre é aquele ex-presidiário”. O direito restitutivo,
característica da Solidariedade Orgânica,
em que, após o cumprimento da pena, o indivíduo deveria ser reinserido na
sociedade, tinha ido pelos ares. Por quê?! Por causa de toda a nossa
(ir)racionalidade.
Enfim, exemplos não faltarão àqueles que tentarem visualizar
as ideias de Durkheim na prática. E sensação de ter realmente aproveitado a
vida não faltará àquele que, mesmo não fugindo do fato de que dependemos do
dinheiro, não colocar o sucesso financeiro como o único motivador de seus atos.
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