O pensamento de Descartes sintetiza muito bem as
convicções da Ciência Moderna, baseando a busca pelo conhecimento na razão,
partindo do princípio da dúvida. Não se pode negar que é o método mais
confiável para obter conhecimento, mas não se pode também confiar plenamente
que assim se chegará à verdade.
Isso porque, mesmo que a razão seja mais confiável que os
sentidos e a imaginação, citados pelo autor como os meios enganosos de se
chegar ao conhecimento, é um trabalho confuso e penoso distinguir claramente
aquilo que nos vêm pela razão daquilo que o faz pelas paixões, por exemplo.
Pois o critério que Descartes apresenta para concluir que uma idéia é
verdadeira é a clareza com que se nos apresenta. E quem há de negar que as
convicções trazidas pelas paixões que nos cegam parecem tão verdadeiras e
inegáveis quanto qualquer obviedade lógica?
Nesse sentido, enquanto o autor aconselha ter o princípio
da dúvida como forma de alcançar a verdade, faria sentido adotar a dúvida como
constante, sem a pretensão de chegar a esse fim. Pois é insensato incumbir a nós,
humanos, seres imperfeitos, de acordo com sua própria definição, a tarefa de
determinar o que é a verdade, posto que para cada indivíduo, em diferentes
épocas da vida, existe uma verdade “clara e inquestionável” diferente.
Assim, poderíamos retroceder historicamente, voltando à
máxima “só sei que nada sei”, de Sócrates, pois apesar de todos os avanços que
se observa na Ciência atualmente, percebemos que conceitos são superados e
convicções são negadas a todo instante, demonstrando como estamos distantes do
que seria uma verdade absoluta.
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