Bianca bufou, afastando o livro de si e se deiando cair na cadeira, exausta. Ela não conseguia compreender a necessidade de se aprender sociologia, afinal "ela já vivia em sociedade, o que mais ela deveria saber?".
Sua mãe, que passava por perto, encarou o desânimo da filha e se aproximou.
_O que aconteceu, querida?
_ Eu não sonsigo entender esse cara, mãe! Por que eu preciso ficar aprendendo o que esse tal de Durkheim falou? Ele já morreu mesmo.
A mulher mais velha dirigiu a adolescente um sorriso doce. Aqueles que só as mães conseguem fazer com perfeição. Em seguida, ela se sentou ao lado da filha e leu a página da apostila que tinha "funcionalismo" como título.
_ Olhe, - a mãe disse, tomando para si a atenção da menina - Durkheim defendia que devemos analisar as coisas para chegar às ideias e não partir das ideias para chegar nas coisas.
A jovem arqueou a sobrancelha e suspirou profundamente.
_ Mãe - ela segurou as mãos da mais velha - isso não faz nenhum sentido.
A mulher riu e depois se levantou, foi até a cozinha e em poucos segundos voltou com duas frutas, uma em cada mão.
_ Qual fruta você quer comer? - ela perguntou.
Bianca já achava que sua mãe estava tão louca quanto Durkheim, falando coisas sem sentido; mas agora ela tinha certeza de que a mulher elouqueceu de verdade.
Entretanto, a mão continuou olhando para ela e estendendo as duas frutas. Bianca então voltou-se para os alimentos. De um lado havia uma maçã, sua casca era tão vermelha quanto sangue e parecia brilhar sob seu olhar; do outro lado havia uma bolinha pequena de cor amarronzada e que Bia não sabia se estava suja de pelos ou se já era assim mesmo.
Não demorou nem um minuto para a resposta ser certeira.
_ A maçã, óbvio. - a mãe sorriu lhe entrengando a maçã.
A menina sorriu apreciando a beleza da fruta em sua mão, em seguida a mordeu, pronta para deliciar-se com o doce. Contudo, o universo e sua mãe tinham outros planos para ela.
_ Mãe! - Gritou enquanto cuspia o pedaço da maçã - Você me deu uma maçã podre!
_ Primeiro, eu não te dei; você que escolheu. Segundo, se tivesse prestado atenção no que Durkhein disse, teria tomado mais cuidado na sua escolha.
_ Eu não to entendo nem o que você, nem o que Durkhein estão falando agora.
A mulher lhe deu mais um sorriso de mãe, enquanto cortava a fruta com pelinhos.
_ Durkhein dizia que devemos analisar os fatos "das coisas para as ideias", isso significa que que devemos primeiro entender, observar e estudar o objeto antes de tirarmos conclusões sobre ele, assim nossos julgamentos não irão influenciar nossas descobertas e decisões.
Bianca se virou para a mesa. De um lado havia uma maçã linda por fora, mas podre por dentro. Do outro, no entanto, tinha aquela frutinha marrom e peludinha, mas que por dentro era uma das frutas mais bonitas que Bianca já viu. Ela parecia uma daquelas mandalas de seu livro de desenho, cheia de pontinhos pretos, risquinhos brancos e de um verde tão vivo quanto o precioso jardim de sua vó.
_ Você seguiu o caminho que a maioria segue, mas que Durkheim critica. - apontou para a maçã - Você partiu das "ideias para as coisas", ou seja, você se baseou nas suas ideologias e pré-conceitos para decidir o que é "melhor" e não analisou o objeto ou a sua essência - sinalizou para o kiwi.
A menina olhava encantada para a mãe e para o livro.
"Então era isso que todos esses parágrafos estavam dizendo?"
Ela finalmente estava começando a compreender o funcionalismo.
_ Mas, mãe o que isso tudo tem a ver com a sociedade? Afinal, a matéria chama sociologia e não 'frutologia'.
A mulher não conseguiu conter o riso.
_Durkheim usa esse mesmo método de observação para compreender os fatos sociais; ações, comportamentos, ideologias e valores que uma pessoa tem e que influenciam a sociedade em que ela vive. Então, ao invés de julgar alguém pela sua aparência ou pelo o que você acha que é certo ou errado, primeiro é necessário observar, estudar, relacionar o que você está vendo com a sociedade e não tirar julgamentos imediatos sem nenhum fundamento ue são baseados na aparência como verdade. Entendeu, querida?
A menina assentiu rapidamente, seus cabelos balançando rapidamente enquanto fazia isso.
_ Sabe, mãe, eu achava que Durkheim era um maluco que não fazia ideia do que ele estava falando, mas, na verdade, ele é muito inteligente.
A mulher mais velha sorriu e, em seguida, beijou o topo da cabeça da filha que já estava com o livro novamente na mão.
_ Sim, querida, ele é.
Crônica feita por Beatriz Pasin de Castro - 1º ano - Direito (Matutino)