Um dos maiores fenômenos atuais tem sido o surgimento e rápido espalhamento dos coachs, um grupo de produtores de conteúdo que se apresentam como grandes pensadores do sucesso, como figuras que vieram do nada e ascenderam na sociedade, alcançando grandes fortunas com apenas algumas simples técnicas e que agora que já estão ricos querem compartilhar seus segredos para fazer ainda mais famílias "prosperarem". Seria uma realidade maravilhosa, se essas declarações não fossem, na verdade, idealizadas e distantes do rigor metodológico de análise material necessário para que elas se provassem verdadeiras, (coisa que esses discursos estão longe de serem).
Esses gurus da prosperidade apresentam seus discurso de várias maneiras, desde os coachs quânticos, que misturam conceitos de física e matemática com ideias pseudocientíficas de "energias emanadas", "conexões extra-cerebrais com o universo" e outras maluquices psicanalíticas; aqueles coachs religiosos, que se dizem pastores, líderes espirituais ou homens que receberam a visão do divino e procuram dar validação para suas ideias através de distorções e interpretações mirabolantes de passagens, geralmente da Bíblia, (afinal, a desigualdade socioeconômica existe porque Deus quis, segundo eles); e até os que se dizem experientes economistas, que maquiam seus discursos com termos e teorias econômicas sem lastro material nenhum.
Mas todos esses tem um ponto em comum, todos eles, de formas diferentes propagam o mesmo discurso, o discurso liberal e neoliberal de meritocracia, de que ficar rico é uma escolha, que basta você se esforçar mais, que as pessoas são pobres porque não mudam seus mindset, que precisam alinhar sua energia e comprar ações na bolsa de valores. Essas ideias ganharam muita força a partir da sua difusão pela internet através de canais como: Pablo Marçal, O Primo Rico, Jovens de Negócios entre vários outros que propagandeiam aqueles mesmos conceitos.
Contextualizada a situação, algumas frases que refletem esse discurso serão objetos de análise e da crítica.
"Preço é o que você paga e valor é o que você recebe. Enquanto não aprendermos que essa diferença existe, estamos fadados a viver uma vida onde jogamos diamantes no lixo, para colocar os restos em cima da mesa." - Thiago Nigro, O Jimo Rico. Essa frase é bastante interessante, primeiramente há uma definição muito metafísica, abstrata e errada dos conceitos de valor e preço. Para Marx e Engels, o valor pode se apresentar de duas formas: o valor-de-uso, ligado à utilidade do produto e ao trabalho humano concreto e o valor-de-troca, esse sim ligado ao direcionamento de um produto para o mercado de venda e ao trabalho humano abstrato. O preço então é a expressão monetária do valor da mercadoria, derivando dos conceitos de valoração anteriores. Outra parte importante é perceber que o pensamento do primo joga a responsabilidade pela miséria no indivíduo nele mesmo, desviando a atenção de exploração sofrida pelo trabalhador e do processo de luta de classes, assim o espalhamento dessas frases tem, senão a função de incutir no pensamento da classe trabalhadora a retórica da classe dominante, visando impedir que haja a percepção de que as mazelas da população tem origem na exploração do trabalho pela burguesia.
"Cuidado com os sonhos cerebrais eles são fantasiosos, busque os sonhos da sua alma ela sim sabe.
A sua alma tem saudade de coisas que seus olhos nunca viram, cuidado com sonhos que estão dentro do seu celebro, eles foram programados por outra pessoa." - Pablo Marçal, o coach que acha que é Jesus. Nessa há um ar de misticismo e uma idealização da alma como um repositório de verdades inerentes quase numa releitura das ideias platônicas do mundo das ideias e do mundo material. Novamente, o coach se nega a realizar uma análise da realidade em sua materialidade, ele estimula as pessoas que o escutam a se apegarem numa divisão pseudocientífica do fenômeno dos sonhos, apresentando a questão física e psicológica os "sonhos cerebrais", como fruto de um outro, uma entidade misteriosa, pressupostamente maligna, que quer impedir que as pessoas acessem seu potencial de prosperidade. Essa ideia visa afastar os ouvintes, que são membros da classe trabalhadora de buscarem explicações para os problemas sociais na materialidade e ainda mais, colocam no ideário dos trabalhadores que as pessoas que buscam fazer isso (os marxistas, por exemplo) são agentes do diabos, assim, esses ideólogos da classe dominante se apropriam de conceitos religiosos e os distorcem para criar um cenário de pânico moral e alienar quem cai em seus tentáculos ideológicos liberais.
Assim, esse tipo de produtor de conteúdo, que consegue alcançar milhões de pessoas, se prova como um dos melhores instrumentos de propagação de ideologia da classe dominante, sendo necessário combater veementemente essas ideias e desmascarar esses charlatões e seus discursos destrutivos, mostrando para a classe trabalhadora que não através do individualismo mesquinho, mas sim através da união entre nós é que conseguiremos transformar nossas realidades.
(As frases analisadas foram retiradas, assim como estavam, do site pensador.com).
(As ideias marxistas sintetizadas foram retiradas de uma coletânea de obras, tais como O Capital e O Manifesto do Partido Comunista).
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