Cota não é esmola e saber não é contemplativo
O Brasil é um país cujas estruturas colonialistas não foram superadas: o patriarcalismo, paternalismo, o elitismo e sobretudo o racismo continuam a reverberar ainda na sociedade pós-moderna. De forma, que mesmo passados séculos do momento, no qual tais estigmas preconceituosos eram aceitos como pensamento cultural. Ainda precisa-se trazer discussões a fim de romper com esses laços retrógrados carregados até o presente, pelo país e sua população.
Assim é possível constatar tal realidade nas instituições de ensino do país, pondo em realce as universidades públicas. Porque a graduação, dentro da atual conjuntura política do Brasil e do seu passado, foi e continua sendo um objeto de alcance da restrita elite do país, de modo que a universidade pública, por todos seus processos de seleção cada vez mais exigentes tornou-se uma conquista da burguesia brasileira.
Não obstante, nos últimos vinte anos, houve uma gradual mudança desse cenário, a iniciar pelas novas universidades privadas, as quais ainda que em defasagem de ensino, proporcionaram por um preço acessível graduação para uma nova parcela da sociedade. Assim, como efeito aumentou ,mesmo que infimamente, o perímetro de brasileiros diplomados. Outro movimento importante foi o de políticas públicas afirmativas, como as cotas, subdivididas em raciais, por renda e ensino público.
Essa representa uma das maiores conquistas atuais da população brasileira, majoritariamente preta, pobre e usuária da rede pública de ensino. Tais leis que asseguram a participação desses, brasileiros historicamente marginalizados, dentro desse circunscrito espaço das academias estudantis brasileiras. Por fim tiram a prerrogativa de que apenas a burguesia pode ser graduada.
Por consequência, ao passo que as universidades públicas recebem essas novos indivíduos cuja realidade é completamente divergente dos antigos — e únicos estudantes que ali percorriam, a forma de conhecimento gerada dentro dessas instituições, por efeito, mudam também. Seguindo o pensamento de Descartes, filósofo moderno, em sua perspectiva de quebra com o ensino tradicional, clássico, a fim de ir de encontro com um conhecimento de práxis e utilidade. Isto é: usar do conhecimento como transformação. A presença de negros, estudantes de escolas públicas e pobres gera um contato real com a sociedade. Criando uma necessidade de conceber um produto acadêmico que ultrapasse o apenas decorativo e técnico, em vez da mesma metodologia tradicional, um conhecimento que tangencie as mudanças.
Ainda com outro filósofo moderno, Francis Bacon, que também interpretava o conhecimento como ferramenta para entender e mudar a realidade, não só como contemplação. Pode-se ler as atuais alterações do universo universitário, sob sua premissa de que conhecimento é poder. Porque com ele se domina economicamente e politicamente o povo, movimento feito pela elite brasileira há séculos. Assim com as cotas e a abertura para novos ingressantes de origem periférica, o dominante perde uma das suas principais estruturas de poder. Por isso ondas reacionárias, anti-cotas são notórias nos últimos anos — principalmente advindas da classe média branca do país, a qual se assusta ao dividir espaço com esses indivíduos.
Conclui-se o pensamento com um trecho da música Cota Não É Esmola, da cantora Bia Ferreira, na qual ela diz “Experimenta nascer preto, pobre na comunidade, você vai ver como são diferentes as oportunidades. E nem venha me dizer que isso é vitimismo, não ‘bota’ culpa em mim para encobrir o seu racismo”. De maneira, que a realidade das universidades públicas precisam abrir e cada vez mais seu espaço, para essa parcela do povo. Buscando como objetivo mudar a produção de conhecimento gerada nesse antro. Porque educação não deve ser um privilégio, e sim, um direito do povo como afirma a atual Constituição de 1988.
Isabella Barra Nova Uehara - Noturno 1a semestre
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