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domingo, 27 de junho de 2021

A revisão da Lei de Cotas e o papel transformador da ciência moderna

 

Ao analisar a História do Brasil, é possível reconhecer em nossa realidade aspectos do colonialismo. Entre eles, a faceta escravocrata. Desde a vinda de africanos para o Brasil, a sociedade atribuiu a eles o papel de serviçal, de subordinado aos seus senhores. Devido essa lógica, mesmo após a  Lei Áurea, em 1888, que extinguiu a escravidão em território brasileiro, esses ex-escravos eram vistos como inferiores, de modo que foram libertos sem nenhuma política pública que proporcionasse qualidade de vida, como moradia, alimentação e educação. Assim, esse grupo de pessoas foi se concentrando em determinadas áreas periféricas das cidades, refletindo sua posição à margem da sociedade. 

Dessa forma, nota-se as origens de um racismo estrutural presente no Brasil. Isso está diretamente relacionado ao fato de que, apesar de serem a maioria da nossa população, ainda são minoria nos espaços de visibilidade social e acadêmica, como em prestigiadas universidades públicas e altos cargos no mercado de trabalho. Sendo assim, a criação da Lei de Cotas em 2012 foi fundamental para a inserção desse grupo nas instituições de ensino.

Apesar disso, muitos brasileiros - brancos - ainda possuem um pensamento conservador de que não se faz necessário um sistema que “privilegia” uma etnia em detrimento da outra, quando, na realidade, é tudo que a nossa sociedade vem fazendo por séculos. 

É possível relacionar também a oferta de vagas direcionadas a tal grupo da nossa sociedade com o pensamento de Francis Bacon, que formulou a Teoria dos Ídolos. Segundo o filósofo, os ídolos são falsas percepções do mundo, que corrompem o conhecimento seguro. Sendo assim, a inserção de jovens negros nas universidades seria uma forma de combater essas ideias falsas e disseminar a verdade em outros aspectos sociais.

Além disso, é muito importante salientar a importância da universidade pública na pesquisa, questão fundamental para o bem-estar da população. Com isso, podemos relacionar o pensamento cartesiano a respeito do método científico, utilizado até os dias de hoje na realização de estudos científicos. Assim, nota-se o papel da ciência moderna, tendo Francis Bacon e René Descartes como exemplo, na transformação da vida humana, com a formulação de perguntas racionais e suas comprovações através das experiências. Para tudo isso, no entanto, é essencial a educação como dita o movimento antirracista, para todos, independente de cor, credo ou condição financeira.

Dessa forma, torna-se óbvio que falar em meritocracia neste país é piada. A romantização, em grande parte pela mídia, de crianças e adolescentes que superaram as suas histórias de vida através de situações extremamente precárias é um grande problema. Isso porque incentiva a ideia de que através de muita luta e esforço, ou seja, mérito, se pode alcançar o que deseja. No entanto, tal lógica não se aplica a pessoas que partiram de perspectivas de vida diferentes. Um menino com uma condição financeira boa, que tem o privilégio de estudar sem se preocupar com a renda familiar, possui muitas chances de ser bem sucedido; ao passo que é muito mais difícil para um garoto de origem humilde alcançar tal êxito.

Portanto, enquanto houver tamanha desigualdade em nossa sociedade, será impossível a revisão da Lei de Cotas, já que esta é fundamental para a entrada de jovens, homens e mulheres, pretos no meio acadêmico. Somente quando o Brasil avançar e as políticas públicas tornarem possível, junto com escolha de governantes inclusivos e adeptos a causas sociais, é que poderemos revisar tal regulamento.


Bruna Pereira Aguirre, diurno - XXXVIII


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