Recordo-me com saudades da escola onde
cursei o Ensino Fundamental I... Tratava-se de um prédio muito robusto e acolhedor, com grandes
jardins ensolarados disponíveis a todos. Certa vez, minha turma foi escolhida para a realização de uma transição
quanto ao ensino de música: desagregá-lo das aulas de artes e dar início ao ensino de como tocar
instrumentos musicais. A ideia era ótima, pois estimularia o cérebro e
auxiliaria no desenvolvimento cognitivo e auditivo das crianças. Além disso, um
ótimo local para as aulas seria ao ar livre, desfrutando dos jardins da escola e visando
estabelecer um contato maior entre criança e natureza, além de proporcionar uma
"transmissão de conhecimentos de maneira descontraída, através de momentos diferentes
de socialização". Estava concebido o tipo
ideal! Faltava, apenas, a direção exercer seu poder para aplicar tal cosmovisão
sobre a ação dos outros.
A escola municipal ainda não
contava com um professor infantil de música, dessa maneira, encarregou disso o
maestro da banda marcial. De qualquer forma, esperava-se que as crianças
tivessem uma reação totalmente previsível diante daquelas melhorias... mas não.
Conforme a dificuldade das aulas aumentava, alguns alunos questionavam o porquê
de terem que se submeter àquilo quando, na verdade, queriam se esforçar menos e
brincar mais. Outros, choramingavam diante da luz do sol e dos pequenos insetos
do jardim. Ao menos foram provocadas relações sociais: os demais
começaram a reagir conforme as ações dos “reclamões”, o que alterava o
significado de todas aquelas iniciativas, tencionando o modelo. Tudo isso era irritante
para o maestro lidar e até mesmo ele estava desanimado. A crítica chegou aos pais e, estes,
ao invés de incentivar, também passaram a criticar a escola – porém sob ótica
diversa da dos filhos: a de uma ética de trabalho e de vida metódica – indagando
qual razão estava fazendo com que a instituição prejudicasse a sua produção (“atrasando-a”)
com recursos alternativos ao invés de aplicar a educação como preparo para a vida do trabalho.
O embate cultural acirrou-se de
tal forma que a escola não viu alternativas a não ser suspender a transição naquele
ano e aplicá-la somente à próxima turma, com novo professor e mais diálogo, além de ter, desta vez, o tipo ideal apenas como um recurso, uma referência do objetivamente possível
frente as atividades escolares.
Diogenes Spineli Soares Filho, 1º Ano, Direito Noturno
Diogenes Spineli Soares Filho, 1º Ano, Direito Noturno
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