O
mundo atual, embora abrigado por alguns como pós-moderno e inserido em uma nova
Era do pós Guerra Fria, ainda dá mostras e expõe desdobramentos da exasperada polarização
entre capitalistas e socialistas, entre mercado e revolução, entre liberdade e
igualdade, sobretudo, do século XX. Exemplos patentes dessa perspectiva de
confronto em aberto, ou mal encerrado, são as ditaduras socialistas de Venezuela
e Coréia do Norte.
Pelo
lado venezuelano, já são mais de 100 mortos, só em 2017; 6 mil detenções arbitrárias;
cerca de 2 milhões emigraram; pessoas são enquadradas como terroristas
simplesmente por terem em seus celulares “conteúdos de oposição política” −
além do ditador Maduro ter imposto uma Assembleia Constituinte sem uma mera
figura da oposição e excretar aberrações como “o que não se consegue com votos,
conseguir-se-á com balas”. Já dos norte-coreanos, temos os relatos das mais
macabras mortes – como de integrantes da própria família do ditador Jong-um,
jogados em jaulas com leões −, além das mais perversas formas de trabalho
forçado e tortura. Outras indiscrições chamam também a atenção, como o dia em
que não se pode sorrir e dançar e as personalíssimas estátuas que homenageiam o execrável ditador por todo
o território.
Os
dois países, embora extremamente distintos e até distantes, guardam entre si
sinteticamente a similaridade de contarem com déspotas que permanecem fiel,
incessante e insensatamente lutando contra o capitalismo e tudo aquilo que o
colocaria como fator de desigualdade. Dessa celeuma toda, mostra-se conveniente
meditar com Max Weber, que se dedicou na temática do espírito do capitalismo e suas
repercussões.
Weber,
ainda que não um liberal ou entusiasta do livre mercado – via o capitalismo
como uma “jaula de aço” −, apreende lucidamente que o sistema econômico não era
tão-só uma opção político-econômica a
ser, ou não, adotada. Suas teses assistem ao sistema, não como um fenômeno
moderno, mas como um artefato presente e inerente a toda história do Homem,
caminhando a uma espécie de “capitalismo intrínseco ao ser humano”: não seria o
capitalismo o gerador de ganância ou cobiça, mas o espírito de acumulação,
presente em toda história do Homem, que acabaria por tê-lo criado enquanto ética
ou modo de vida – mesmo nas sociedades mais primitivas, é possível ver o
ser-indivíduo pré-disposto a valer-se de sua força de trabalho para sobreviver
e se fazer perante a natureza, adversidades e os seus antagonistas semelhantes.
Se
para Marx toda passagem e transformação no curso da História teria sido produto
de uma luta de classes e do materialismo a ela concernente, Weber passa a ver o
Homem enquanto indivíduo capaz e racional, que imprime intencionalidade em suas
condutas – as chamadas “Ação Social” −, as quais têm motivos, objetivos e geram
consequências. O indivíduo weberiano, portanto, é livre para agir e a sociedade
que compõe é resultado justamente das relações entre ele e seus pares, afastando-se
da obsessiva premissa marxista do determinismo sócio histórico, que se mostra
restrita ao reducionista “proprietário versus trabalhador” como determinador de
tudo e todos, ignorando, entre outros fatores, a esfera cultural e a de poder e
prestígio − algo fisiológico e displicente que parece ver o Homem como um ser
que precisa somente do pão,
esquecendo-se até do circo.
Dessa
forma, parece pertinente contrastar os expostos ditadores com as moderações
realistas e pragmáticas de Weber quanto ao capitalismo. Têm-se os primeiros que,
sob a prerrogativa de combater o "selvagem" objeto de estudo do pensador – embora
do consumo usufruam, vide a riqueza dessas elites política −, passam a paranoicamente
centrar suas contendas numa luta de classes binária e, sobretudo, já desvirtuada:
hoje as relações de trabalho contam não mais com o exclusivo duelo clássico “porco
capitalista versus operário chão de fábrica”, e, sim, com uma variedade de ofícios
e seguimentos, como operadores de informação, funcionários públicos,
prestadores de serviço e donos dos mais variados pequenos negócios. Resultado
dessa guerra tresloucada ao capital é não mais que a invariável corroboração
com a máxima de Friedman: “a sociedade que coloca a igualdade à frente da
liberdade irá terminar sem igualdade e liberdade”.
Assim,
nota-se que, após a queda do Muro de Berlin, alguns países parecem ter
caminhado a Weber – ou seja, achando belo, ou não, mas aderindo ao capitalismo
e se beneficiando das liberdades individuais para empreender, negociar e tomar decisões
autônomas −, enquanto outros têm partido ou permanecido sadicamente com as já “apreciadas”
ditaduras sanguinárias, em busca de uma perfeição hipotética de igualdade material, material e material – como se para
libertação e independência, somente isso bastasse. Exemplo do primeiro grupo é a
desconhecida Estônia, ex-integrante da URSS, que ao abrir o mercado (em 18
minutos é possível se abrir uma empresa, pela via digital), em pouco mais de 20
anos longe do comunismo, já tem um IDH de 0,865 e um poder de compra per capita
de mais de 20 mil dólares. O segundo grupo, por sua vez, mostra-se bem
sintetizado em nações como a revolucionária Venezuela, que a cada 4
venezuelanos, 3 já perderam, em média, 8,6 quilos; a pobreza já se aproxima dos
90% e falta até o papel higiênico.
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