Razão, coluna matriz do capitalismo moderno. O racionalismo marcante do homem pós-medieval é semente primeira do espírito do capitalismo, como descreve Weber; reinvestimento, inteligência, poupança e acumulação banham o pensamento capitalista em seu florescer.
"São avaros, pecadores!" Bradam os católicos, ao verem seus vizinhos enriquecerem estonteantemente, em pouquíssimos anos. Sinto informar: são os escolhidos de Deus, o verdadeiro Deus, e por isso prosperam. Ou ao menos é isso que diziam os protestantes no limiar do século XVIII, alicerçados nos comandos de Calvino e Lutero. Desafiaram a Igreja Católica, a maior e mais poderosa instituição política - e, paradoxalmente, militar - de seu tempo para, sob a égide da Razão, cumprirem seu propósito divino.
"São avaros, pecadores!" Bradam os católicos, ao verem seus vizinhos enriquecerem estonteantemente, em pouquíssimos anos. Sinto informar: são os escolhidos de Deus, o verdadeiro Deus, e por isso prosperam. Ou ao menos é isso que diziam os protestantes no limiar do século XVIII, alicerçados nos comandos de Calvino e Lutero. Desafiaram a Igreja Católica, a maior e mais poderosa instituição política - e, paradoxalmente, militar - de seu tempo para, sob a égide da Razão, cumprirem seu propósito divino.
Dominar-se-ia o mundo. Aboliu-se a ideia de oração estritamente divina, como alternativa à sofrível e lamentável sucessão de fatos do cotidiano, instaurou-se a novíssima concepção de conquistar o sucesso, especialmente financeiro. Concomitante ao lucro proveniente do trabalho, o capitalista ideal ora e é-lhe garantido o progresso, o desenvolvimento, o bolso cheio de moedas. Não se engane, no entanto, ao achar que toda a riqueza do capitalista racional será convertida em volúpias e itens reluzentes: toda a fortuna é reinvestida, vez a vez, crescendo cada vez mais.
De maneira paralela, racionaliza-se o âmbito jurídico, transformando-no em engrenagem meticulosamente posicionada, de tal sorte que nada - nem ninguém - possa posicionar-se, sem retaliação impiedosa, no caminho do Escolhido.
A Razão, aliada do homem em todo o progresso e crescimento, torna-se, com o capitalismo racional baseado na ética protestante, um paradoxal mecanismo de concentração, opressão e desigualdade. O capitalista de sucesso, escolhido por Ele, é, nesta lógica, abençoado por forças intangíveis que permitiram seu progresso; o pobre coitado, incapaz de alimentar-se duas vezes ao dia, não foi agraciado com a luz divina? Tal Razão parece-me, afinal, justificativa esfarrapada para a desigualdade; com base no etéreo, é muito fácil ao capitalismo, em sua origem, fixar-se e mostrar, de fato, a que veio.
Fernando M. G. Peres - 1º ano, Direito Noturno.
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