Em um museu, uma mulher observa
uma escultura.
Ruídos inconvenientes ao redor,
advindos de murmúrios contemplando outras obras. Flashes de câmeras
garantiam status no instagram e, se acompanhadas por uma
legenda roubada, vendiam bem uma vida feliz de um intelectual de
fachada. Cabeças baixas digitavam mensagens extasiadas no celular e
passavam, obra após obra, selecionando a que daria mais likes.
Dezenas de máquinas caminhavam pelo museu sem enxergar uma única
obra, mecanizados por uma conduta valorativa de dominação e
prevalência de vontades. Ruídos barulhentos inundavam o salão, mas
entre a mulher solitária e a escultura era possível ouvir o som do
silêncio.
Seus olhos inquietos observavam a
escultura e seus pensamentos se intensificavam ao passo que sua
cabeça tombava para a direita. “Escultura idiota”. Os dedos
corriam displicentemente pelo cabelo cacheado. “Um homem
construindo a si mesmo, entalhado a pedra, em uma sociedade estúpida
que se diz meritocrática. A realidade não corresponde a esse tipo
ideal…”. “Preenchemos nosso tempo com trabalho, sempre
disputando por recursos escassos. Poder, legitimidade, status… Não
nos importamos com o jogo. Queremos ganhar”. “Somos escravos do
dinheiro que tanto cobiçamos. Metrificamos nosso tempo por ele, não
para gastá-lo mas para tê-lo. Não por um fim, mas por um meio. E
nos iludimos em pensar que esforço e sucesso são diretamente
proporcionais. Como se mérito, somente, de fato ditasse alguma
coisa”. Interrompeu o movimento do dedo que enrolava um cacho, e
deslocou uma porção de cabelo para de trás da orelha. Braços
cruzados, o peso do corpo concentrado sobre uma das pernas. Postura
imponente e olhos sedentos. “Damos um caráter divino ao dinheiro.
Como se sucesso econômico significasse boa-venturança divina. Uma
resposta de Deus, de que Ele está feliz com minhas ações”.
Suspirou….“O que é sucesso?”.
“Gastamos nossas vidas tentando
ganhá-las”. As palavras do pai ecoaram em sua cabeça. “Produzimos
sem sentido e consumimos sem necessidade. Vivemos em uma sociedade
semiúrgica e pagamos os preços de seus significados”. “Jamais
pague um preço alto de mais, minha pequena. Nunca vale a pena…”.
A mulher rompeu o contato visual
com a escultura, olhou o reflexo da sociedade ao redor e se dirigiu à
saída. “Tarde demais, pai. Tarde demais…”.
Abner Santana de Oliveira. 1º Ano, Direito- Noturno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário