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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Poética Capitalista

Friedrich Engels foi um teórico revolucionário que, junto com Karl Marx, teorizou o socialismo científico.  Dentre outras coisas, a análise do modo de produção capitalista foi essencial para o desenvolvimento da ideia socialista. Em um mundo movido pelo capital, no qual a produção era o mandante de todo o funcionamento da sociedade, o socialismo seria um alívio para a pressão gerada. O capitalismo é um sistema baseado na obtenção de lucro, e para isso é preciso aperfeiçoar a produção para que o retorno financeiro seja cada vez maior. Para isso, o desenvolvimento das máquinas foi de suma importância, pois muitas vezes substituía um trabalhador, que era remunerado, e muitas vezes era mais eficiente que um ser humano no trabalho.
Álvaro de Campos foi um dos heterônimos de Fernando Pessoa. De suas fases de produção poética, a que mais se assemelha a teoria de Engels é a “futurista”, na qual os poemas são escritos de forma eufórica, com várias onomatopeias, exaltando o mundo moderno, o progresso científico e técnico, industrialização e evolução da humanidade, celebrando o triunfo das máquinas. Há também, paralelamente, a demonstração de horror a poluição física e moral da vida moderna.

“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica  
Tenho febre e escrevo.  
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! 
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! 
Em fúria fora e dentro de mim, 
Por todos os meus nervos dissecados fora, 
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! 
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, 
De vos ouvir demasiadamente de perto, 
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 
De expressão de todas as minhas sensações, 
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”
[...]
Álvaro de Campos

O poema traduz os sentimentos mais diversos do poeta em relação ao maquinário, tão presente e próximo da vida moderna. Em alguns momentos, as máquinas são exaltadas, porque foram um meio de aumentar a produção e gerar mais lucro, que é um dos objetivos do capitalismo; em outros momentos, Álvaro de Campos se sente cansado de passar uma vida do lado dos objetos produtivos, e chega até a criticá-los; intimamente, há uma crítica também ao mal que as máquinas podem fazer para o desenvolver da sociedade nos moldes capitalista: sendo mais eficientes do que o trabalho humano, as máquinas tiram o trabalho e fonte de renda de várias pessoas.

Sendo assim, a vida moderna no sistema capitalista gira em trono de uma eterna contradição, na qual alguém sempre vai sair prejudicado. E sempre será o proletário.

Júlia Veiga Camacho
1º ano Direito- Diurno

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