Friedrich Engels
foi um teórico revolucionário que, junto com Karl Marx, teorizou o socialismo
científico. Dentre outras coisas, a análise
do modo de produção capitalista foi essencial para o desenvolvimento da ideia socialista.
Em um mundo movido pelo capital, no qual a produção era o mandante de todo o
funcionamento da sociedade, o socialismo seria um alívio para a pressão gerada.
O capitalismo é um sistema baseado na obtenção de lucro, e para isso é preciso aperfeiçoar
a produção para que o retorno financeiro seja cada vez maior. Para isso, o
desenvolvimento das máquinas foi de suma importância, pois muitas vezes substituía
um trabalhador, que era remunerado, e muitas vezes era mais eficiente que um
ser humano no trabalho.
Álvaro
de Campos foi um dos heterônimos de Fernando Pessoa. De suas fases de produção
poética, a que mais se assemelha a teoria de Engels é a “futurista”, na qual os
poemas são escritos de forma eufórica, com várias onomatopeias, exaltando o
mundo moderno, o progresso científico e técnico, industrialização e evolução da
humanidade, celebrando o triunfo das máquinas. Há também, paralelamente, a
demonstração de horror a poluição física e moral da vida moderna.
“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r
eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”
[...]
Álvaro de Campos
O
poema traduz os sentimentos mais diversos do poeta em relação ao maquinário,
tão presente e próximo da vida moderna. Em alguns momentos, as máquinas são
exaltadas, porque foram um meio de aumentar a produção e gerar mais lucro, que
é um dos objetivos do capitalismo; em outros momentos, Álvaro de Campos se
sente cansado de passar uma vida do lado dos objetos produtivos, e chega até a
criticá-los; intimamente, há uma crítica também ao mal que as máquinas podem
fazer para o desenvolver da sociedade nos moldes capitalista: sendo mais eficientes
do que o trabalho humano, as máquinas tiram o trabalho e fonte de renda de
várias pessoas.
Sendo
assim, a vida moderna no sistema capitalista gira em trono de uma eterna
contradição, na qual alguém sempre vai sair prejudicado. E sempre será o proletário.
Júlia Veiga Camacho
1º ano Direito- Diurno
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