Progresso
pífio e piramidal
Empreender uma obra arquitetônica deslumbrante como as
pirâmides egípcias é indubitavelmente uma tarefa árdua. Todavia, sua finalidade
funerária levanta o questionamento se todo a dedicação não foi pífia. Qual investimento
foi realizado? Haverá um retorno proporcional aos gastos? As riquezas foram
estagnadas? Respectivas respostas: Nenhum. Não. Sim. Notadamente, observa-se nessas conclusões um espírito de valorização
do dinamismo do capital.
Max Weber dedicou-se a entender os desdobramentos da Reforma
Protestante na consciência e atitude das pessoas, porquanto tal reforma deu início
ao forjamento de um novo modo de produção. Seu enfoque é direcionado aos
calvinistas e sua influência na ruptura responsável por alavancar as diferenças
entre Oriente e Ocidente. Outrossim, a universalização da ocidental
racionalização. O diferencial dessa nova racionalização é visar o domínio do
mundo, e não apenas acomodar-se a ele, como um buda ou um cristão que “ao ser
ferido na face direita, oferece também a outra.”
Para os calvinistas os indicativos de acumulação de riqueza
não fomentam a vergonha; pelo contrário, tratam-se de sinais de predestinação,
da graça de Deus. Circular a moeda é uma responsabilidade divina e trata-se do
sentido da ação social. Ação social a qual tem por embasamento uma
racionalização contábil, jurídica, científica e do homem. E, aquele que diverge
de tal comportamento, está fadado ao insucesso. “Quem não adaptar sua maneira
de vida às condições de sucesso capitalista é sobrepujado, ou pelo menos não
pode ascender.”
A ética cultural promove a diferenciação no comportamento
humano, pois primeiramente ela modifica a consciência dos indivíduos para
posteriormente externá-la em ações. Após os fugazes apontamentos de Weber
acerca do protestantismo, em um contexto atual, esses pensamentos possuem
importância e validade? Promover a dinâmica do capital é necessário para as
relações sociais. Porém, considerar a relevância de um ser proporcional à sua
aquisição de bens traz à discussão o sentido já exposto do caráter pífio
piramidal: afinal, um progresso que não atende a todas as faces piramidais, ou
seja, à toda a população e apenas àqueles “escolhidos de Deus”, não é também
vil, reles?
Daniele Zilioti de Sousa - Direito Noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário