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domingo, 29 de setembro de 2013

Progresso pífio e piramidal

       Empreender uma obra arquitetônica deslumbrante como as pirâmides egípcias é indubitavelmente uma tarefa árdua. Todavia, sua finalidade funerária levanta o questionamento se todo a dedicação não foi pífia. Qual investimento foi realizado? Haverá um retorno proporcional aos gastos? As riquezas foram estagnadas? Respectivas respostas: Nenhum. Não. Sim. Notadamente, observa-se nessas conclusões um espírito de valorização do dinamismo do capital.
      Max Weber dedicou-se a entender os desdobramentos da Reforma Protestante na consciência e atitude das pessoas, porquanto tal reforma deu início ao forjamento de um novo modo de produção. Seu enfoque é direcionado aos calvinistas e sua influência na ruptura responsável por alavancar as diferenças entre Oriente e Ocidente. Outrossim, a universalização da ocidental racionalização. O diferencial dessa nova racionalização é visar o domínio do mundo, e não apenas acomodar-se a ele, como um buda ou um cristão que “ao ser ferido na face direita, oferece também a outra.” 
       Para os calvinistas os indicativos de acumulação de riqueza não fomentam a vergonha; pelo contrário, tratam-se de sinais de predestinação, da graça de Deus. Circular a moeda é uma responsabilidade divina e trata-se do sentido da ação social. Ação social a qual tem por embasamento uma racionalização contábil, jurídica, científica e do homem. E, aquele que diverge de tal comportamento, está fadado ao insucesso. “Quem não adaptar sua maneira de vida às condições de sucesso capitalista é sobrepujado, ou pelo menos não pode ascender.”
   A ética cultural promove a diferenciação no comportamento humano, pois primeiramente ela modifica a consciência dos indivíduos para posteriormente externá-la em ações. Após os fugazes apontamentos de Weber acerca do protestantismo, em um contexto atual, esses pensamentos possuem importância e validade? Promover a dinâmica do capital é necessário para as relações sociais. Porém, considerar a relevância de um ser proporcional à sua aquisição de bens traz à discussão o sentido já exposto do caráter pífio piramidal: afinal, um progresso que não atende a todas as faces piramidais, ou seja, à toda a população e apenas àqueles “escolhidos de Deus”, não é também vil, reles?

Daniele Zilioti de Sousa - Direito Noturno

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