Há
quatro séculos, o mundo deparava-se com uma realidade obscurecida pelas
correntes que a Igreja Católica empunhava ao conhecimento, impossibilitando que
a luz do racionalismo se expandisse. Tal período histórico abrange a Inquisição
e o Santo Ofício, no qual centenas de visionários tiveram que se calar frente
uma imensa fogueira, pois qualquer palavra proferida verbalmente ou de modo
escrito poderia resultar em mortes horrendas. Soergueu-se um notório
autoritarismo e controle ideológico, consolidando-se uma hegemonia de
pensamento, que sob hipótese alguma poderia ser desrespeitada. A religião
absorveu uma ampla mácula, que repercute até os dias atuais- mas essa exposição
não apresenta como objetivo retratar isso-, pois desrespeitou o maior dom que
poderia advim de Deus: a própria vida.
Um dos
pilares constitutivos da Inquisição foi o Index Librorum Prohibitorum, um
índice de obras literárias e científicas que se contradiziam aos dogmas
formulados pela Igreja. O Direito Canônico legitimava que todos os livros que
abordassem temáticas relacionadas à religião ou aos bons costumes deveriam ser fiscalizados
pelo Ordinário local. Inquestionavelmente, uma das piores censuras já
presenciadas pela humanidade, no qual ao nos depararmos consideramos como algo
fútil e banal, pois já se encontra no nosso cerne o direito à liberdade. Um
instigante questionamento que perpassa até os dias atuais refere-se à
regulamentação dessa liberdade, a quem cabe essa função? Quais os limites da
minha liberdade perante o próximo?
Semelhantemente
a essas “trevas”, os alunos da UNESP depararam-se no dia 28 de agosto, com um
explícito cerceamento do direito de expressão, como se coubesse a meros
revoltosos a opção de escolha do conhecimento cientifico a ser perpassado. Os
que estavam presentes no auditório naquela noite, depararam-se com raivosos
cães ideológicos que almejavam devorar qualquer discussão de pensamento que ali
se instaurasse, impuseram um Index
Cogitationes Prohibitorum. Se na consolidada democracia, houve um solo
fértil para o surgimento da semente da liberdade, quanto mais em um centro
universitário de ciências humanas, que teoricamente deveria ser um espaço livre
para discussões diversas e propício para embates, independentemente do gênero.
Irracionalmente,
presenciou-se pseudomarxistas que se julgavam os detentores do conhecimento,
desprezando qualquer diversidade. Por mero fanatismo, autoritarismo e radicalização,
inúmeros “progressistas” demonstraram de onde realmente fundamentam-se, seriam
os partidários do SS seus ídolos? O príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança
teve inúmeras vertentes de sua liberdade violada de modo desnecessário, um
embasamento pautado unicamente por seu posicionamento conservador não é
suficiente para tal protesto.
“Posso não concordar com
nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de
você dizê-las”. Proferida por Voltaire, essa frase ecoa com veemência aos
nossos ouvidos. Sob o âmbito evolutivo, ressalta-se que a fala e a escrita,
formas mais gerais de expressão de ideias, diferencia-nos dos demais animais e
essas “dádivas” possibilitam à apresentação de nossas ideias aos nossos
semelhantes. Logo, depreende-se sob a ótica durkheniana que essa manifestação
restriniu-se a uma mera explicitação de consciência coletiva incipiente e
refuta a própria racionalidade humana vista sob esse ponto de vista.
A UNESP
necessita definitivamente enraizar em seu meio a premissa básica que para a
definitiva consolidação do meio universitário necessita da convivência de
contrários e não de segregação, mesmo se houver divergências necessita-se
priorizar pela urbanidade. Diante do que foi exposto anteriormente, poderia se
deduzir um posicionamento de direita apelando para a rigidez da ditadura
militar, entretanto trata-se de uma priorização da dialética para que produza
constantes questionamentos, e consequentemente produção de conhecimento.
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