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domingo, 13 de abril de 2025

Por fim, a vida segue. Com o mundo em ordem, ou não

Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo

Ordem: Organização baseada em critérios lógicos.

 

- Eu queria que existisse um mundo perfeito. – Respondeu meu colega Pedro.

- Bom, não era bem essa a resposta que eu gostaria de ouvir – Retornou a professora. Ela tem razão, não estávamos filosofando, nem temos aula de filosofia! Essa é uma aula de Projeto de Vida.

- A senhora perguntou o que queríamos.

Pois bem, o que querem ser ou fazer daqui 3 anos, qual faculdade, qual carreira querem seguir, ela quis dizer coisas desse tipo! Pedro, coisas desse tipo! Ele nunca entende uma pergunta simples?

- E importa o que uma pessoa insignificante, que provavelmente não vai chegar a nenhum lugar realmente relevante, vai fazer nas suas 12 horas de sol por dia, durante 40 ou 50 anos? Já estamos condenados, com todo respeito. Eu queria que existisse um mundo perfeito.

- Entendo seu sentimento pessimista, mas querer que o nosso mundo seja perfeito é... – Dona Clarisse foi interrompida imediatamente pelo garoto que insistia em retrucar.

- Não o nosso. Não disse que queria que o nosso mundo fosse perfeito, quero outro, outro mundo, um perfeito. Um onde as pessoas e as coisas sejam perfeitas. Um onde as pessoas e as coisas estejam em Ordem.

Ah o Pedro, ele é tão viajado! Mas todos nós já tivemos um colega de classe que não bate muito bem.

- Bom, já vi que vamos longe assim... Então vamos mudar um pouco o tema da aula pessoal. – A professora torna a se sentar e convida Pedro a continuar.

- Eu simplesmente não entendo como vocês não conseguem entender. É normal pessoas passarem fome? Dormirem nas ruas? Morrerem de doenças que já tem tratamento? Morrerem em guerras que não tem culpa nenhuma de terem começado? Avalanches, enchentes, queimadas...

Todos na sala parecem estar em um consenso de que não é normal, realmente. Talvez Pedro não esteja tão doido assim, talvez eu concorde com ele...

- Não, não é normal, você tem razão Pedro – Participei pela primeira vez na roda de conversa, para me arrepender logo depois.

- Errado! É sim normal.

 O que ele disse? Como pode ser normal? Olho para meus amigos e eles tem a mesma reação que eu.

- Vocês me olham como se eu fosse o próximo Mussolini, por deus! É claro que é normal, no mundo que estamos vivendo sim. O mundo é um vale de sofrimento

De repente o silêncio reina de novo na classe. Será incômodo com a afrontamento feito, ou será consentimento? Será que estão refletindo aquelas palavras da mesma forma que eu estou? Mas então o que deveríamos fazer, se está tudo tão desorganizado?


- Segura a onda aí Nietzsche.

Uma voz ecoa do outro lado da sala, quebrando o silêncio e trazendo a alma dos alunos de volta para seus corpos.

- O mundo não é um vale de sofrimento. Se você pensa assim, é tão ignorante quanto aqueles que critica. Isso acontece quando o povo está alienado ao ponto de não conseguir perceber que essa desordem que vocês tanto falam não é algo desse mundo, e não deve ser normalizada. Mas isso tem sim uma solução!

Pronto, mais um para confundir ainda mais o que já estava confuso! Lá vem o Marcos e suas ideias revolucionárias.

- As ideias dominantes, as que vocês têm, são as ideias da classe dominante, dos burgueses. O capitalismo é o culpado por toda essa desordem! Querem uma ideia de como vencemos isso? “Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes.”

 

Subitamente, vários alunos começaram a falar. Alguns que já haviam exposto suas ideias, outros que estrearam elas:

- Todos os homens podem errar, e a maioria acaba cedendo por paixão em algum momento! Não dá para ficar culpando a humanidade por errar, é da natureza dela!

- É, a Joana tá certa, o homem é o lobo do homem!

Tomas e Joana já parecem ter chegado num consenso, quando do outro lado, alguém discute com o Marx- opa! Com o Marcos.

- Você não entende Marcos, que o trabalho só dignifica o homem? Essas coisas acontecem de forma orgânica. As suas ideias utópicas iriam pôr a desordem no mundo! – Alega a Duda.

- O mundo já está em desordem! – Marta tenta ajudar, mas Marcos ainda discorda

- O mundo está em ordem! na ordem do capitalismo.

 

No meio de toda essa confusão, a professora toma partido:

- Silêncio! Qual a dificuldade de fazer um debate tranquilo? Chega, não voltaremos mais nesse assunto! Não temos tempo para tantos devaneios, está quase na hora do final da aula.

 

E estamos, novamente, silenciados. Eu até estava gostando da discussão. Apesar de ainda estar confusa, foi interessante ouvir tantos pontos de vista. Uma pena que não tivemos tempo de chegar a uma conclusão.


O sinal logo tocou anunciando o final da aula, me pergunto se haverá algum sinal para anunciar o fim da ordem do nosso mundo, ou o seu próprio fim... Será que esse sinal já tocou? Toda essa desordem no planeta era uma demonstração, um indício de que nossa hora já passou?

Quando me dou por conta, a classe já está vazia. Todos já se foram, e eu estou atrasada para minha aula de flauta!

Por fim, a vida segue. Com o mundo em ordem, ou não

 

Evelly Alonso Lopes - 1º Direito Noturno

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