Durante as discussões promovidas nas últimas aulas de Sociologia, pudemos contemplar partes da doutrina positivista e, entre tantas reflexões, me peguei pensando no quanto a lógica e o racional – bases da filosofia formulada por Auguste Comte – moldaram diversos momentos sociais, políticos e científicos da história, impulsionados, principalmente, pela intenção de progresso. Mas, afinal, o que verdadeiramente seria o progresso?
Na visão dos positivistas, era nada mais do que uma linha reta e universal: sair da ignorância, passar pela filosofia e alcançar o estágio final com o controle social através da razão e da ciência. Nessa ótica, é possível identificar que os fiéis a essa ideologia costumavam desconsiderar saberes empíricos não comprovados pelo racional, tornando-os algo ilegítimo no campo do conhecimento. Sob esse parecer, entendimentos intrínsecos a povos tradicionais – como os indígenas e quilombolas, no Brasil –, à religião e à metafísica eram subestimados, demonstrando a exclusão promovida e incentivada pelo sistema positivista, que aniquila o simbólico, o ético, o afetivo e o diverso — e é justamente isso que Machado de Assis expõe em sua obra “Quincas Borba”, clássico que li recentemente e do qual me recordei ao longo da penúltima aula de Sociologia; o “Humanitismo”, teoria fictícia que ridiculariza o uso frio e egoísta da lógica, é um paralelo satírico com o positivismo – que, naquele período, estava em alta; “Ao vencedor, as batatas”, frase emblemática do livro, faz jus ao viés positivista meritocrático e de exclusão, no qual cada indivíduo deve, simplesmente, aceitar a existência de leis naturais que defendem a sobrevivência do mais apto e a hierarquia de etnias. No mundo contemporâneo, ainda que com roupagens diferentes, esse espírito persiste — especialmente na obsessão por dados científicos e na desvalorização das humanidades. Assim, Machado antecipa uma crítica ainda atual: a razão, quando descolada da ética, pode legitimar abusos injustiças em nome do progresso.
Diante disso, e tentando responder a questão inicial, é crucial repensar o verdadeiro significado de progresso em um universo plural e complexo como o nosso, lotado de diferentes culturas, hábitos e saberes. O pensamento positivista, quando prioriza a razão em detrimento da diversidade e da sensibilidade humana, escancara os perigos de um modelo que elimina, silencia e hierarquiza. Ao puxar para a discussão obras como Quincas Borba, somos convidados a questionar até que ponto a lógica, isolada da ética e da empatia, pode guiar um futuro realmente justo. O progresso, em conclusão, só é legítimo quando caminha junto da humanidade em todas as suas formas de expressão.
Ana Carolina Tiozzo Mascarenhas, 1º ano de Direito (matutino).
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