A perspectiva durkheimiana e o fenômeno dos procedimentos estéticos
O sociólogo Émile
Durkheim, preocupado com a importância de uma comunidade forte e consolidada,
desenvolveu o primeiro método sociológico, no qual o fato social seria objeto
de sua investigação. Tal termo, por sua vez, consiste em tudo aquilo que possui
origem na sociedade e é interiorizado no indivíduo, de tal modo que ele próprio
não desconfia da real natureza dos conceitos enraizados. Dessa forma, ações
como tomar banho, comemorar datas festivas, comer alimentos específicos, vestir
determinadas roupas ou escutar certos estilos musicais não são, ao contrário do
que se acredita, realizadas de maneira natural, mas forçadas pela própria
organização social que cerca o ser humano, impactando em suas escolhas e seus
gostos. Pode-se dizer, assim, que o fato social é dotado de exterioridade, de
generalidade e de coercitividade.
O pensador francês não estava equivocado ao
desenvolver sua tese, porque ela ainda se aplica escancaradamente à atualidade.
Prova de tal afirmação são as ondas de harmonizações faciais que têm engolido
países, entre eles o Brasil. Na tentativa de acompanhar a ditadura da beleza,
inúmeras pessoas se submetem a procedimentos invasivos e caros, apenas para
obter o padrão da vez, o qual é temporário e traiçoeiro. Nesse sentido, a
sociedade coercitiva invade o livre-arbítrio dos indivíduos e força-os, ainda
que inconscientemente, a seguir determinados modelos, do contrário, exclui e
frustra todos que não o façam. Logo, a uniformidade de aparências é atingida, e
a coesão, finalmente alcançada.
Destaca-se, no
entanto, que quem sofre, em maior proporção, com essas tendências estéticas são
as mulheres, as quais são constantemente analisadas e julgadas pela sociedade
e, portanto, se sentem coagidas a acompanhar o fluxo ideal estabelecido. Além
de serem avaliadas e questionadas nos mais diversos âmbitos, como no
profissional, no acadêmico e no familiar, a coerção é ainda mais impositiva no
estético, uma vez que, conforme a visão errônea do senso comum, aquelas que vão
ao sentido diametralmente oposto do que é ditado são consideradas desleixadas,
ultrapassadas e descartáveis. Por isso, é fato que o aumento da procura por cirurgias
e harmonizações faciais, em especial, no meio feminino, está associado à busca
pelo pertencimento e pela inclusão, sentimentos provocados pela coesão social.
Conclui-se, pois,
que a coerção presente na sociedade, proposta inicialmente por Durkheim, é
notada na contemporaneidade, essencialmente, no meio estético. Nele, as
mulheres são as mais aliciadas a aceitar e realizar a moda do momento, como os
procedimentos estético-cirúrgicos, o quais não garantem, de fato, uma
realização pessoal. É preciso atentar-se a tudo isso, pois os seres humanos
estão se tornando um conjunto de cópias coesas.
Isadora Cardoso Peres - 1º Direito Noturno
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