Segundo Charles Wright Mills, “A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas dentro da sociedade” de maneira que a biografia reflete as perturbações pessoais de cada indivíduo e a história a percepção científica, instrumento que conecta experiências pessoais a contextos sociais mais amplos. Essa abordagem permite que indivíduos compreendam como suas vidas são influenciadas por forças sociais, históricas e culturais. Ao aplicar essa perspectiva às inundações ocorridas no Rio Grande do Sul em 2024, considerada a pior tragédia climática da história do Estado, podemos observar como as perturbações pessoais se entrelaçam com uma percepção científica distorcida, em razão de um negacionismo ambiental.
Mills argumenta que muitos problemas enfrentados pelo homem são frequentemente vistos como questões isoladas ou meramente individuais. No entanto, ao adotar a imaginação sociológica, é possível perceber que essas "perturbações pessoais" estão profundamente enraizadas em estruturas sociais e políticas. As enchentes no Rio Grande do Sul não afetam apenas a vida de quem perde sua casa ou seus bens; elas refletem uma série de decisões coletivas sobre urbanização, uso da terra e políticas ambientais que têm sido moldadas ao longo do tempo.
O negacionismo ambiental é um fenômeno que se manifesta na recusa em aceitar evidências científicas sobre as mudanças climáticas e seus impactos. Esse comportamento pode ser visto como uma forma de perturbação pessoal, onde indivíduos ou grupos minimizam a gravidade das inundações e suas causas para evitar confrontar realidades desconfortáveis. Ao considerar as inundações neste contexto, podemos observar como a falta de aceitação das evidências científicas leva a uma percepção distorcida dos riscos envolvidos e perpetua uma visão limitada da realidade social.
Através da lente da imaginação sociológica de Mills, torna-se evidente que as inundações no Rio Grande do Sul não são apenas um problema local; mas uma questão de maior abrangência. Essa desconexão entre a experiência vivida e a realidade científica é um exemplo claro da necessidade de desenvolver uma imaginação sociológica mais robusta. Visto que, conforme o sociólogo, “nesta Idade do Fato, a informação lhes domina com frequência a atenção e esmaga a capacidade de assimilá-la”.
- Letícia de Oliveira Silva, 1° semestre de Direito, matutino
Boa análise, Letícia. E afora os conceitos com os quais trabalhou, fico a pensar se a filosofia de Mills não nos auxiliaria a, em futuro próximo, colocarmos em nossas políticas o planejamento ambiental a médio e longo prazos. Cansa vermos as ações apenas após ocorridos os vários desastres. Agora que as águas do Sul se foram, parece que continua a negligência quanto aos planos de cuidados para o futuro. O que pensa sobre isso tudo? Com respeito, Alexandre.
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