As instituições públicas sempre se mostraram essenciais para a produção e o avanço do conhecimento na historicidade humana, seja nos centros acadêmicos medievais, que empregavam os primeiros estudos do Direito, até os dias hodiernos, com a realização de pesquisas que impactam diretamente a função prática da organização e transformação do mundo nas mais diversas áreas de aprendizagem. Nesse âmbito, convém pontuar como certas concepções atuais, de viés conservador, vêm descredibilizando e atacando as universidades de caráter popular, utilizando-se de uma "suposta doutrinação ideológica" empregada dentro das mesmas para invalidar seu papel como mediadoras e democratizadoras do saber nas sociedades. Por esse prisma, são válidas as seguintes reflexões: como as concepções filosóficas de Descartes e Bacon refletiriam sobre essa temática? E qual a importância da perspectiva de Karl Mannheim para a autenticação das ciências universitárias?
Em consonância a isso, sob a ótica de Descartes, em seu livro ''Discurso do Método'', a racionalidade e a dúvida metódica são imprescindíveis para a construção do conhecimento. Dessa forma, o filósofo moderno, em sua visão racionalista e pragmática, buscaria abordar a questão do papel e da influência ideológica das instituições públicas de maneira a reforçar a necessidade de uma autonomia de ideias baseada na subjetividade e na importância do método científico na produção do saber universitário. Dessarte, para o intelectual empirista Francis Bacon, a produção acadêmica dos centros de ensino superior deve ser pautada, assim como na visão descartiana, em dados concretos e verificáveis, e não apenas em discursos teóricos, sendo validada, especialmente, pela observação e experimentação.
Outrossim, observa-se que ambas as perspectivas convergem para a importância da razão e do seguimento de métodos científicos para a validação e o "progresso" da intelectualidade universitária. Entretanto, de acordo com Karl Mannheim, em sua obra *Ideologia e Utopia*, "nenhuma instituição é completamente neutra, e o conhecimento produzido nessas organizações não é livre de influências ideológicas, pois o contexto social e as relações de poder sempre influenciam o que é considerado 'legítimo' ou 'válido' no campo do saber". Sob essa ótica, convém destacar que a presença de doutrina não invalida o campo acadêmico das universidades públicas, mas, na verdade, o aprimora, já que essa imersão em cenários socioculturais, políticos e históricos diversos possibilita uma análise mais plural e enriquecedora do conhecimento. Em função disso, para o sociólogo húngaro, o problema não está na influência de fatores externos, que poderiam invalidar e relativizar o conhecimento dentro das instituições, mas na falta de consciência crítica para alcançar uma visão mais reflexiva e precisa da realidade, permitindo o desenvolvimento de um saber menos dogmático, aberto a revisões e novas perspectivas.
Olá Gabriela. Gostei da abordagem que fez acerca da ausência de neutralidade na universidade (porque, de fato, não há neutralidade e ou imparcialidade) e da ideia de que isso não justifica o argumento de que ali haveria simples doutrinação, invalidando tudo o que na universidade se produz. De todo modo, na necessária crítica, devemos sempre estar atentos. Porque a ausência de neutralidade e ou imparcialidade não justificará, nunca, a "música de uma nota só", não é mesmo? Com respeito, Alexandre.
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