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domingo, 23 de março de 2025

O Capital, a "Mobilização Sociológica" e a Escala 6x1

Pedro Duarte Silva Sinicio Abib - Direito NOTURNO    

Ao descrever o fenômeno da “Imaginação Sociológica”, Charles Wright Mills disserta sobre a separação do indivíduo de seu senso social e coletivo, levando o homem a se enxergar no tecido social enquanto único e individual, no famoso discurso do “cada um que cuide da sua vida”, retirando qualquer espírito de mobilização e luta de classes de seu cerne, e limitando sua consciência sobre suas próprias posições, projeto esse que é essencial para que o Capital possa continuar atuando e impondo suas políticas impostas desde os tempos de Revolução Francesa.


São inúmeros os exemplos desse projeto de dessocialização e despolitização da sociedade, o primeiro deles, o voto individual e passivo, tirando qualquer possibilidade de participação política ativa do povo e promovendo uma atuação individual e “secreta”, levando a política de um campo coletivo para um individual. Permitindo que o Capital continue dominando e explorando os meios econômicos e políticos, enquanto entrega uma falsa sensação de participação a uma classe destituída de qualquer capacidade de mudança, devido ao sucesso do projeto burguês individualizante.


Em acontecimentos mais recentes, vimos a mobilização na internet acerca do projeto de lei da deputada Erika Hilton (PSOL) sobre a proibição da Escala 6x1 na jornada de trabalho brasileira. Por mais que pela primeira vez em tempos, a esquerda tenha se unido em prol de uma causa trabalhadora, luta essa que é o cerne de sua existência, foram inúmeros os casos de políticos e trabalhadores que foram contra a causa. A participação de trabalhadores em protesto contra melhores condições para eles próprios é mais um exemplo do sucesso do projeto dessocializante. A individualização se tornou tão profunda, que mesmo a ação política coletiva em prol do trabalhador gera protestos com frases como “Não quer escala 6x1, então se demita, que tem gente desempregada querendo trabalhar”, mostrando perfeitamente a falta de qualquer consciência coletiva para se portar perante a exploração do Capital, escolhendo se aliar ao seu projeto e negociar com ele enquanto indivíduo, perdendo enorme força de barganha e auto sabotando qualquer possibilidade de melhoria de vida, uma vez que a negociação nunca esteve em estado de igualdade, além de demonstrar falta de conhecimento sobre problemas estruturais da gestão pública como o desemprego. Escolher agir enquanto indivíduo é, em casos como este, agir contra o coletivo e sua luta.


Percebe-se, então, a importância fundamental da Imaginação Sociológica, permitindo a união de classes sociais e garantindo que pensem enquanto um todo, tomando conhecimento de suas limitações, processos históricos e injustiças sofridas no passado e no presente, e permitindo que lutem contra elas no futuro. Entretanto, tal objetivo só pode ser alcançado a partir do entendimento do contexto histórico-social enquanto um todo, tornando esses indivíduos passivos, em um coletivo ativo no tecido social.



2 comentários:

  1. Contente por constatar a visão profunda e elevada consciência que tens. Bacana demais, rôia!!!!

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