Tic
Tac: o ressoar da perturbação.
O
amanhecer de um novo dia vinha acompanhado da necessidade de encarar sua atual
situação, estava desempregado. Encarar o relógio enquanto tomava seu café
somente o lembrava que em exatos 15 minutos deveria comparecer a rodoviária
municipal para iniciar mais um dia de trabalho. Hoje não seria assim. Ele não
possuía mais um emprego. O tic tac ressoava pelo ambiente e penetrava seu ser
como se o relógio estivesse instalo dentro de si e não na parede da cozinha. Não
aguentaria ficar dentro de casa. Precisava procurar um novo emprego. Precisava
findar suas perturbações.
...
O bar de
seu Jão era o ponto de encontro dos finais de semana com os amigos para beber.
Hoje era quarta feira e ele estava lá. Não era noite e não havia nenhuma
comemoração, ele estava desempregado, mas ali não havia relógios nas paredes. Não
havia o tic tac incessante. Não havia a rotina perdida. Não havia somente suas
perturbações. Havia os outros. Havia suas conversas. Havia bebida; e suas
perturbações eram deixadas de lado por algumas horas. Era um escape. Seria
somente hoje, um único dia e depois ele enfrentaria os relógios que ressoavam
dentro de si.
...
Não fora
somente uma noite. No dia seguinte ele voltara lá, conversara com outros, falaram
de suas perturbações. Não foram duas ou três conversas. Foi-se uma tarde toda. Descobriu
que outros também sentiam os tics dos relógios dentro deles. Que eram
desempregados e que o bar de seu Jão era o refúgio durante o dia. Que também
eram perturbados. Nunca reparara que existia tantos como ele, que não
era o único assim.
...
Ele parou
de ir ao bar do Jão, eram muitas pessoas iguais a si. Tentara ir a um boteco em
outro bairro mais afastado, mas a situação foi a mesma. Todos que iam ali nesse
mesmo horário estavam em situações semelhantes. No fim ele desistiu, decidiu
voltar para sua casa. Ao menos lá ele não se depararia com outros dele mesmo,
lá teria que lidar somente consigo mesmo. E é claro, com o relógio. Esse era
uma inquietação que poderia resolver naquele momento. Ligaria a TV, o som dela
de certa forma não o deixaria ouvir o tic tac do objeto. Agora só faltava
arrumar um novo emprego e tudo iria voltar ao normal.
Em casa,
ele ligou a TV. O jornal era o programa daquela hora. Fazia tempo que não o
via, não possui quase momentos para o ver. Era empregado, tinha rotina a seguir
até não ter mais, até poder ir ao bar de quarta feira e depois no boteco do
bairro vizinho, tudo a tarde. Não a noite.
Foi ali
enquanto pensava nos últimos acontecimentos que a TV lhe mostrou a reportagem, os
números que na verdade eram pessoas. Pessoas como ele, desempregadas. Eram
muitas, não só no bar, não só no bairro vizinho. No país todo. Essa perturbação
não assombrava somente ele, mas sim uma nação. Não, não era uma perturbação,
agora já era uma questão! A e que diferença ele viu! Não era só ele que
procurava emprego, não era só um bar, só um bairro, eram milhares!
Ali,
naquele momento, ele reparou que naquele contexto talvez fosse ainda mais
difícil resolver essa perturbação, ou seria questão!? Não importava, poderia
dedicar-se infinitamente, mas ele estava no meio de um problema social, e não
deveria partir somente dele uma resolução.
Maria
Clara Moro Genesini, 1º ano de direito, período noturno.
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