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domingo, 4 de maio de 2025

Superestrutura, Infraestrutura e Trumpismo

 Nas eleições do ano passado nos EUA, diversas big techs (alta burguesia com forte controle midiático) apoiaram a candidatura de Donald Trump, um neofascista que também é parte da burguesia, para presidente. Esse apoio utilizou inclusive meios de compra de voto, como o sorteio de Musk para quem vota-se no Trump. A motivação da burguesia nessa situação foi, evidentemente, tentar acumular ainda mais capital ao evitar um governo de Kamala Harris, que apoiava propostas que poderiam ser benéficas para parte da burguesia na ampliação do mercado consumidor interno mas que seriam negativas no sentido de um possível fortalecimento de normas ambientais, sindicatos e direitos trabalhistas. Por conta dessa pressão, inclusive, Kamala Harris chegou a voltar atrás com uma proposta de campanha dela que visava reduzir a exploração de um produto tóxico porque a burguesia que detinha os meios de produção para essa exploração era evidentemente contrária a essa proposta. Portanto, embora ambos os candidatos não fossem meramente alinhados mas também instrumentalizados pela burguesia, os interesses da alta burguesia prevaleceram e Donald Trump ganhou as eleições por uma margem considerável e com uma grande parcela do poder político do país (pois ele também tem ampla influência sobre os outros poderes agora, já que tem maioria tanto na suprema corte, com pessoas apontadas pelo partido dele, quanto no Congresso Nacional, com parlamentares do partido dele).
 Nesse sentido, é evidente que a infraestrutura do sistema capitalista exerceu forte influência nesse período de transformação política da superestrutura. Entretanto, até mesmo depois das eleições essa influência tem se tornado evidente. Agora que Donald Trump está aplicando diversas tarifas de importação, a burguesia americana está sofrendo com o aumento dos custos de produção. Poucos burgueses se beneficiaram com a redução da concorrência externa. Um exemplo de tarifa que causou diversos malefícios a burguesia estado unidense foi a sob produtos de Madagascar. Nesse caso, Madagascar exporta grande parte da sua produção de baunilha para a indústria alimentícia dos EUA, e os EUA não produzem baunilha. Quando a tarifa foi aplicada, o preço da baunilha aumentou, prejudicando a indústria alimentícia americana, e não ouve nenhuma indústria da baunilha protegida por isso nos EUA pois não tem indústria de baunilha nos EUA. Por esse motivo, a burguesia americana agora, em grande parte, parou de apoiar ou começou a se opor a Donald Trump. Nesse sentido, agora está ocorrendo uma grande disputa de poder entre Donald Trump, que graças ao seu poder político está centralizando cada vez mais o Estado em si mesmo, e a burguesia, que está tentando influenciar membros da administração pública para reverterem as tarifas de Trump. O primeiro atrito mais evidente que apareceu nesse sentido foi a disputa na votação do Congresso sobre a transição de governo entre Donald Trump e Elon Musk, na qual Trump saiu vitorioso mas mesmo assim Elon Musk tinha conseguido mudar os votos de diversos parlamentares através de seu poder econômico. Além disso, vale ressaltar que um outro burguês apenas um pouco menos rico tinha apoiado Trump nessa disputa, contribuindo (talvez definitivamente) para esse resultado.
 Portanto, a tragetória política de Donald Trump é um exemplo bem interessante sobre a influência mútua entre a infraestrutura e a superestrutura capitalista.

Felipe Lopes Gouveia Clauz Morlina - Direito Noturno 1ºSemestre - UNESP

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