Nos últimos anos, a ascensão das plataformas de entrega, como iFood, Uber Eats e Rappi, gerou uma nova categoria de trabalhadores: os entregadores de aplicativo. Esses trabalhadores, frequentemente autônomos, enfrentam longas jornadas, baixa remuneração e ausência de direitos trabalhistas formais. Por isso, em 2020, durante a pandemia, organizaram greves amplas, conhecidas como “Breque dos Apps”, denunciando as condições de trabalho precárias e a baixa remuneração. Apesar disso, discursos dominantes continuaram a promover a imagem do entregador como um “empreendedor”, com liberdade e flexibilidade de horário.
Para compreender essa realidade, é preciso recorrer à crítica da ideologia e do materialismo histórico dialético de Marx e Engels. Para os autores, a vida concreta, cuja principal atividade é a econômica, é o que determina o desenvolvimento das ideias do indivíduo, ou seja, são as condições materiais e as relações sociais e econômicas que moldam as ideias dominantes e uma época. Eles argumentam que a ideologia funciona como uma inversão da realidade: as ideias da classe dominante se tornam as ideias dominantes, justificando as estruturas de poder existentes.
A centralidade econômica na obra marxista concede ao leitor uma chave interpretativa que pode ser resumida no seguinte: a forma de trabalho de uma sociedade sempre determinará a sua forma de pensar, seja no universo cultural, político, religioso etc. Essa distinção da realidade material determinando a realidade imaterial é a distinção entre estrutura e superestrutura. A dominação da estrutura, ou seja, o controle da forma de trabalho e reprodução material da sociedade pelos donos de meio de produção, determina também a dominação da superestrutura por ideias análogas às aplicadas no contexto econômico. Se no contexto econômico a hierarquia e a ordem são aspectos essenciais da realidade do trabalho, esses mesmos aspectos serão essenciais no universo das ideias.
No caso dos entregadores de aplicativo, a defesa da "autonomia" e do "empreendedorismo" age para mascarar a relação de exploração que existe de fato. Esses trabalhadores não possuem meios de produção nem controle sobre seu tempo ou sua renda, dependendo totalmente das plataformas e seus algoritmos para trabalhar. Apesar disso, são levados a crer que são "donos do próprio negócio", uma falsa consciência que encobre sua condição real. Essa enganação ideológica não é fruto de um erro individual de cada um dos entregadores, mas expressão da dominação material de uma classe, que controla os aplicativos e lucra sobre eles, sobre outra, que é a real produtora do valor e da mais-valia, que se manifesta também como dominação das consciências.
. De fato, para uma classe da sociedade – os donos dos meios de produção – a ideologia pautada na “autonomia” é uma realidade concreta, e não apenas um engodo, mas para todas as demais não, elas estão atreladas inevitavelmente à primeira, não apenas na economia, mas também em suas consciências, visto que, como no caso específico dos entregadores, a ideologia da burguesia se difunde como uma realidade absoluta de todas as classes.
Artur Azevedo Rodrigues - 1º ano - Direito (noturno)
Nenhum comentário:
Postar um comentário