O
sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), estabelece como objetivo em sua
sociologia compreensiva a observação das ações dos agentes sociais. A compreensão
dessas ações é pautada na observação dos valores que movem os indivíduos, ou
seja, suas ações se dão a partir de aspectos culturais. Nessa perspectiva,
estabelece concomitantemente a necessidade de utilizar do recurso metodológico de
“tipo ideal”, esse recurso é um esboço daquilo que pode vir a ser a realidade e
daquilo que talvez seja o sentido das ações sociais. Dessa maneira, o tipo
ideal não estabelece a verdade, mas sim o que ela pode vir a ser, sendo necessário,
portanto, uma comparação da analise empírica com essa abstração.
Diante
dessa concepção sociológica, observa-se hodiernamente o estabelecimento de um
tipo ideal de conservador (que se assemelha muito a ideia clássica de
conservadorismo) que difere da atual realidade empírica, realidade essa que é
marcada por ações sociais que muito se distinguem do conservadorismo clássico estabelecido
por Edmund Burke. Essa onda conservadora atual pode ser denominada como
neoconservadorismo, que carrega consigo características influenciadoras de
ações individuais diferentes, e que são, sobretudo, muito mais perigosas que o
conservadorismo clássico. A análise será feita a partir da diferença de tipos
ideais, as minhas observações em comparação a aquelas já estabelecidas, aquilo
que acho que o conservadorismo se tornou atualmente e sua definição clássica adota
erroneamente como tipo ideal. E demonstrando que o conservadorismo atual
(neoconservadorismo/liberal-conservadorismo) é muito mais aquilo que
caracteriza as ações sociais atuais, e sobretudo, muito mais perigoso que o
tipo ideal clássico.
Há
uma noção de que é o caráter da cultura europeia católica que constitui um dos
principais valores para a ação humana ocidental, todavia, o que se observa é o declínio
da cultura católica a partir da segunda metade do século XX e sua assimilação
pela cultura americana de massa. O conservadorismo atual é aquele que se formou
na figura de republicanos como George W. Bush e pseudo-conservadores como Margaret
Thatcher, e que logo se espalhou para as mais variadas partes do globo. Quais
são então as principais oposições que devemos ter em mente ao construir o tipo
social conservador?
Em primeiro lugar, é defendido no tipo ideal clássico que o conservador atual é movido principalmente por sua religião, entretanto, o que se observa é que o caráter principal propulsor das ações — embora possuir como base ideológica por trás o protestantismo — é o lucro. Assim sendo, o conservador tradicional é reacionário a qualquer ação que promove uma supressão de seu povo e cultura, enquanto o neoconservador abre espaço para ideologias que assimilam a ideia de livre mercado e adoção de multinacionais que suprimem culturais religiosas locais. Essa questão fica clara ao analisar o debate entre dois conservadores, Tucker Carlson e Ben Shapiro, conservador e neoconservador respectivamente. Enquanto Ben Shapiro defende que os indivíduos e suas ações devem se pautar pelo livre mercado, e este não pode ser regulado em nenhuma instancia. O conservador clássico Tucker Carlson diz que se o livre mercado ameaça o bem-estar da família nacional, ele tem que ser regulado de qualquer jeito. A partir disso conclui-se que, nessa primeira característica, o caráter cultural econômico desempenha hoje um papel mais notório na ação do que o caráter cultural religioso (que era central antigamente), importante observar também que Weber não negava a ação da economia na ação social.
Simultaneamente,
verifica-se em um segundo plano mais cultural, uma alternância de valores clássicos
dos europeus católicos para valores tipicamente da cultura de massa americana,
sobretudo, aquilo que se conhece por “American Way of Life”, que são valores
adotados pelos neoconservadores e que coordenam e condicionam as ações sociais
a partir do século XX. A religiosidade, tradição e patriarcalismo não
desempenham mais papel central como antigamente, entretanto, ainda continuam
sendo vistos como integrantes do tipo ideal. O “ethos” que deve ser visto como
tipo ideal atualmente é o padrão de vida americano (American Dream), com suas
falsas ideais de liberdade que incluem o sucesso
e prosperidade, maiores mobilidades sociais para os indivíduos e famílias,
alcançadas através do trabalho em uma sociedade sem empecilhos. Esses
valores se tornaram de tal modo tão gerais para o neoconservadorismo que
pessoas defendem a sua propagação ao resto do mundo com unhas e dentes. A
iniciar-se com Bush filho que convenceu a população americana e o resto do
mundo a apoia-lo na luta contra os “regimes autoritários” e instaurar a “democracia”
no Afeganistão e Iraque, afirmando que eles ameaçavam o American Way. O que na
atualidade não é diferente, com Israel e Estados Unidos promovendo campanhas no
Irã, Iraque, Síria, Líbano, Iêmen, Catar e Líbia com a prerrogativa de estarem
levando um mundo melhor, enquanto isso pseudo-conservadores defendem tais
ideias (consultar link nas referências) e atuam (no sentido de ação social) em
favor desse modo de vida.
Conclui-se, nessa prerrogativa, que o tipo ideal do
conservadorismo clássico adotado não condiz com a realidade empírica, em que
está é muito mais condizente com um tipo ideal neoconservador, e muito difere e
nada condiz com o real conservadorismo.
Link para acesso dos
prints: https://imgur.com/a/AYfCaph
Otávio Eloy de Oliveira –
1 ano de Direito - Noturno
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