A
obra de Fritjof Capra, Ponto de Mutação,
nos introduz à teoria holística, que vê o mundo como um único sistema, no qual
tudo está interligado, e a compara com o mecanicismo cartesiano, ainda a base
da percepção do mundo das pessoas em geral. O filme mostra a conversa entre uma
cientista, um político e um poeta, na qual a mulher desconstrói os conceitos
ultrapassados deles, e à luz da física, da sociologia, da biologia, da
economia, e de outras áreas do conhecimento, apresenta a visão sistêmica do mundo
e os convence da fonte real dos problemas mundiais.
A compreensão mecanicista vê o mundo como se
fosse uma máquina, surgiu com René Descartes, em seu pensamento metodológico,
no século XVII, com a ascensão da burguesia e da modernidade, assim enxergava a
solução dos problemas como peças defeituosas a serem trocadas, porém
desconsiderava todas as outras conexões; ou seja, atua na consequência do fato
e não em sua causa, o que mostra a limitação que tal visão possui, pois o mundo
tem tantos problemas, que não podem ser revolvidos separadamente como se fossem
peças. É feita uma analogia com a medicina atual que pesquisa a cura de doenças
cardíacas, por exemplo, sendo que seria muito menos trabalhosa, dolorosa e onerosa
a introdução de uma mudança de hábitos alimentares, agindo assim, na raiz da
enfermidade; mas é sabido que a estrutura regente do comportamento das pessoas
depende de fatores externos ao que concerne a impotência dos dominados e
afetados pelas adversidades da sociedade, inviabilizando a transformação.
As novas tecnologias surgem, então,
a fim de solucionar somente o que atinge quem tem poder de compra para
financiar pesquisas, há uma elitização do conhecimento, gerando maiores
complicações, pois tais técnicas não se propuseram a saná-las de forma ampla,
assim transferem-nas a outrem. Desta forma, além do conhecimento estar à
disposição de poucos, os quais determinam o destino do mundo, uma vez que, de
acordo com Francis Bacon, este tem o poder de dominação, é usado de forma
antiética para atrocidades que envergonham a humanidade, resultando na destruição
da própria natureza, objeto de estudo da ciência. O erro do mecanicismo foi
que, corroborado pelas leis naturais de Newton, explicava os fenômenos da
natureza no século XVII, destarte acreditava-se que os problemas estariam
resolvidos, no entanto foram deslocados, pois não foram examinados
holisticamente.
Chega-se
a conclusão de que o mundo muda mais rápido do que a percepção das pessoas e
que precisa-se de uma nova, mais abrangente, que dê mais firmeza e força na
compreensão da realidade, com uma estrutura científica coesa e coerente: a teoria
dos sistemas vivos. Sua fundamentação metafórica e prática é que, como os
átomos e as partículas subatômicas, tudo e todos estão conectados por forças e
que juntos formam uma teia, um sistema, que compõe todo o universo. Desta
maneira, as coisas devem ser vistas como um todo, pensando nos princípios de
organização da vida e de sua natureza interdependente.
O individualismo do homem é tamanho
que sua busca incessante pelo conhecimento causa sua própria deterioração, já
que a natureza é finita para fornecer os bens que ele usa para nutrir o
egocentrismo de seu poder de dominação. Ao passo que a humanidade caminha em
direção ao fim, a natureza continuará se renovando, se organizando, se
mantendo, se transcendendo, pois um sistema vivo depende do ambiente, mas este
não é determinado por aquele. A natureza cria novas formas, a evolução é sobre
criatividade, não sobre adaptação; e o ser humano se limita à co-evolução, pois
evolui com o planeta, depende do ambiente, também parte do sistema. Portanto,
ou o homem amplia seu campo de visão para melhorar a vida humana como um todo
em busca de uma sociedade sustentável ou irá se autoflagelar patologicamente e
inconscientemente; pois maioria dos entraves hodiernos, sejam sociais,
econômicos ou ambientais, provém do nocivo ideal de crescimento excessivo.Henrique Mazzon - Direito Noturno
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