Esse quadrinho do cartunista Quino é apenas um daqueles
que apresentam uma abordagem crítica, alicerçada sobretudo no materialismo
histórico e sintonizada com a necessidade de superação da sociedade burguesa,
materialmente e ideologicamente. Essa personagem, Mafalda, sempre demonstra uma
postura crítica em face dos comportamentos tanto da sociedade que a rodeia,
quanto, de forma mais específica, de seus amigos, como, por exemplo, de
Susanita, que é uma “burguesinha”, egoísta, racista e briguenta, que se
preocupa mais com a aparência do que com os problemas do mundo; estando as duas
em constantes conflitos. Nesse quadrinho, em especial, Mafalda, diante do diálogo
que ouvira entre dois homens mais velhos pautado, basicamente, na descrença na
mudança, se mostra preocupada ao pensar na ideia de que quando viesse a
envecelher esse espírito de mudança pudesse se esmorecer. Tal como aconteceu
com eles. Convida, então, seus amigos Manolito, Miguelito e Felipe a não
deixarem que o mesmo aconteça com a geração da qual fazem parte.
Diante
disso, os dois senhores poderiam fazer o papel daqueles socialistas utópicos
que enxergam a necessidade de mudança sem, contudo, compreender o momento
histórico em que estão vivendo, pois se pautam em um sistema universal e
definitivamente plasmado do conhecimento da natureza e da história. Enquanto
Mafalda, tendo em vista suas características próprias: a crítica e a observação
da realidade em que se encontra, se aproximaria daquilo que Marx e Engels
buscaram fazer através de suas pesquisas científicas: analisar a sociedade e as
relações engendradas pelo modo de produção. Através da dialética como uma base
metodológica sólida e criteriosa para compreender o momento em que eles estão
vivendo, a singularidade do capitalismo e os caminhos possíveis para a
transformações. Portanto, a suposta “previsão”, base de muitas críticas a Marx,
em verdade, é consequência da análise da realidade e de muitos anos de
pesquisas.
Não basta,
então, que os antagonismos sejam compreendidos pela razão, é necessário que as
condições estejam dadas e essa transformação tenha se transformado em uma
necessidade. Mafalda enxerga essa necessidade e se preocupa em vir a se tornar
inerte a ela. Por isso o esforço para mundar o mundo, para que esse não a mude
primeiro. Ou seja, antes que a mudança ocorra.
Yasmin Commar Curia
Primeiro ano do Direito - Noturno
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