Vários atributos
contribuíram para transformar “Do socialismo utópico ao socialismo científico”
no segundo texto marxista mais lido pelos trabalhadores do mundo inteiro -
atrás apenas do Manifesto do partido comunista. Basta folhear esta pequena
obra-prima do maior colaborador de Marx para perceber que não é um mero texto
de vulgarização. Engels, em resumo, historia como e por que o socialismo
se transformou em ciência. Para tanto, recupera os grandes pensadores
socialistas que precederam o marxismo - Saint-Simon, Fourier e Owen. Destaca
sua contribuição à crítica do capitalismo, mas também as limitações de suas
doutrinas, que continham intuições às vezes geniais mas careciam de alicerces
sólidos.
Os socialistas
utópicos, como ficaram conhecidos dedicaram seus principais esforços a conceber
como seria uma sociedade futura, nova, avançada, próspera, fraterna, racional,
livre dos males do capitalismo. Descreveram-na minuciosamente, e tanto Fourier
como Owen chegaram a tentar levá-la à prática, em escala experimental. Já
Marx e Engels seguiram o caminho inverso. Pouco se ocuparam em detalhar a
sociedade do futuro, descrevendo-a apenas em seus traços mais gerais. Todos os
seus estudos tiveram como foco a sociedade do presente. Trataram de entender o
capitalismo, reconstituir seu nascimento e sua trajetória, expor seus
mecanismos secretos de funcionamento, estudar suas contradições e as forças
sociais que o protagonizam.
Engels localiza,
dentro do próprio desenvolvimento capitalista, as contradições que abrem caminho
para o socialismo. A produção é social, e socializa-se sempre mais, enquanto a
apropriação é privada, e concentra-se a cada dia em um círculo mais reduzido de
grandes burgueses. Desta contradição básica nasce o antagonismo entre as duas
classes fundamentais da sociedade moderna, o proletariado e a burguesia. O socialismo é então, para Engels, um percurso incontornável da história
e não uma obra do gênio humano. É o produto necessário da luta entre as duas
classes formadas historicamente. A história natural para o filósofo é o
“espelho da dialética”, estando em uma transformação permanente. O instrumento
científico para a transformação é o materialismo dialético, operando em favor
da ruptura. A cientificidade do “novo socialismo” estava em decifrar as leis
históricas e as contradições inerentes ao capitalismo, sendo, a principal
delas, a mais-valia, o principal mecanismo de exploração da classe
trabalhadora. Mais de um século depois de
escrita, a análise de Engels impressiona pela atualidade. Ali está a explicação
dos verdadeiros motivos econômico-sociais do chamado desemprego
tecnológico.
Thais Amaral Fernandes
1 ano Direito Diurno
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