Foi
a dúvida sobre o funcionamento do organismo humano que levou à criação da
medicina no período Renascentista, assim como os questionamentos sobre o
passado e comportamento do homem originou o estudo da História ao longo dos
séculos: do conhecimento do senso comum ao conhecimento erudito, uma máxima da
ciência é a dúvida como motor para novas e importantes descobertas sem as quais
as perspectivas humanas ficam limitadas e obsoletas. É diante dessa temática
ainda muito atual que René Descartes fundamentou seu Método Científico em busca
de certezas indubitáveis, inaugurando, assim, a “nova” filosofia a qual
procurava.
Para
tanto, após anos de isolamento e análises, o método cartesiano foi construído, essencialmente
a partir de quatro regras: (1-evidência) nunca aceitar como correto aquilo
sobre o qual não houver total clareza; (2-análise) decompor cada problema em
quantas partes mínimas forem necessárias para solucioná-lo; (3-síntese) ir do
mais compreensível ao mais complexo para a solução; e (4-enumeração) revisar
completamente o processo para assegurar-se de que não ocorreu nenhuma omissão.
Tais regas obedeciam impreterivelmente à “dúvida metódica”- instrumento
primeiro de Descartes para obtenção de certezas- que consiste em questionar
todos os conhecimentos e certezas já consolidados, inclusive a da própria
existência. No entanto, vê-se que em todo questionamento há pelo
menos uma certeza: a da existência da própria dúvida, que só se materializa
diante da razão de um ser pensante. Dessa forma, é possível afirmar que a
dúvida é a garantia concreta da existência do homem e que a razão é fundamental
para isso, o que Descartes conclui na célebre frase “Penso, logo Existo”.
Com
isso, o sociólogo defende a corrente do Racionalismo, condenando a erudição
tradicional livre de dúvidas, o conhecimento do senso comum (demasiadamente
pautado no hábito), a filosofia, que é tão pouco pragmática e, principalmente,
o conhecimento transmitido pelo hábito ou pelas experiências. Além disso, crê
que a reconstrução do conhecimento não se faz com uma ruptura radical das
crenças antigas e sim por meio de uma “moral provisória” na qual seria
fundamental seguir três máximas: respeitar as leis e costumes de seu próprio
país, ser determinado em suas ações e sobrepor a “vontade do mundo” diante da
vontade própria.
Sobre
essa última – mais uma colocação atual de Descartes- percebe-se análise de que
apenas o pensamento e a razão são inatos e intrínsecos ao homem e que todas as
vontades próprias, portanto, deveriam estar subjugadas. Dessa forma, não é
natural do ser humano afeiçoar-se por algo diferente disso, como bens
materiais, o que consistiria no segredo de felicidade de muitos filósofos que
se contentam em viver para contemplar o pensamento. Novamente, há exaltação do
pensamento e da razão como caminho da verdade e da felicidade, que na
pós-Modernidade se materializa primordialmente no “saber é poder”; e todos
ainda buscam, assim como Descartes, o saber que supera a certeza da dúvida em
todas as áreas do conhecimento.
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