No “Discurso do Método”, do francês René Descartes, o autor, narrando em
primeira pessoa e de forma inusitada, pretende elaborar um novo método de
aprendizado e conhecimento, baseado na razão científica e autorreflexão. Para
isso, ele elabora uma moral provisória, que ele mesmo segue, de forma a
desconstruir o conhecimento que lhe fora passado até então.
Nessa moral provisória, composta por três pontos principais, Descartes
acredita que chegar à “verdade científica” (ou seja, a verdade livre de sensos
comuns e com alicerces firmes) depende de se desprender de suas próprias
convicções e elaborar novas, que levem em conta a vontade do mundo.
A ideia de Descartes pode ser aplicada no mundo atual, no sentido em que
a dificuldade em abraçar novas ideias é um dos grandes provocadores de
conflitos da sociedade moderna. Em todas as civilizações, desde a árabe,
chinesa e ocidental, a firmeza em um ponto de vista sólido e imutável causa
tamanho atrito entre gerações e grupos diferentes que, não raro, a violência
termina sendo usada. Um exemplo disso seriam os conflitos entre as parcelas
conservadoras da sociedade e os grupos progressistas, como os que lutam pela
laicidade do Estado.
Uma frase de Schopenhauer que se encaixa perfeitamente nesse contexto é:
“o mundo insiste em operar contra a minha vontade”. Aqueles que mantêm suas
opiniões imutáveis, mesmo com a evolução da sociedade, vão inevitavelmente
ficar ultrapassados; é preciso vencer suas crenças de modo a avançar
intelectualmente, socialmente e moralmente.
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